1 de out. de 2010

Jogo Patológico

Culturalmente em nossa sociedade, os jogos de azar são considerados uma atividade de lazer, ou mesmo um hábito inocente de "tentar a sorte". Muitas pessoas compartilham desse comportamento de maneira saudável, fazem pequenas apostas apenas como uma "tentativa", ou uma "brincadeira". É comum vermos as pessoas fazendo uma aposta na Mega Sena (principalmente quando acumula!), comprando uma raspadinha, e até mesmo fazendo pequenas apostas (com valores irrisórios) em jogos de cartas entre amigos, bem como outros tipos de jogos com apostas pequenas. Entretanto, dentre a grande maioria das pessoas que conseguem lidar com o comportamento de jogar de maneira saudável, existem algumas pessoas que sofrem de grande descontrole, e são levadas pelo comportamento compulsivo de jogar, sem se impor limites e muitas vezes sem aceitar limites externos, chegando a comprometer sua renda, seus compromissos financeiros, sociais e até familiares para conseguir sustentar o seu hábito compulsivo de jogar.
O comportamento de jogar compulsivamente é considerado pela Organização Mundial de Saúde como Transtorno dos Hábitos e dos Impulsos, e é chamado de Jogo Patológico. O transtorno consiste em episódios repetidos e freqüentes de jogo que dominam a vida do sujeito em detrimento dos valores e dos compromissos. Algumas das características desse comportamento incluem a preocupação em jogar, a necessidade de apostar quantias crescentes (afim de atingir a excitação desejada), esforços repetidos e mal sucedidos de controlar, reduzir ou parar de jogar, jogar para recuperar perdas passadas, mentir para encobrir a extensão do envolvimento com os jogos, podendo chegar à realização de atos ilícitos para financiar os jogos, ocorrendo ainda o comprometimento ou perda de relacionamentos pessoais ou ocupacionais em virtude do jogo, e dependência dos outros para obtenção de dinheiro para o pagamento dos débitos.
Além das características mencionadas, os jogadores patológicos, na maioria das vezes, mostram-se excessivamente confiantes, por vezes chegando a serem ríspidos, arrogantes, são também muito enérgicos e gastadores. Também é possível observar que existem sinais óbvios de estresse pessoal, ansiedade e depressão. Para a pessoa viciada em jogos, é comum a crença de que o dinheiro é tanto a causa quanto a solução para todos os seus problemas. A medida que o comportamento de jogar aumenta, são forçados a mentir para obterem mais dinheiro e continuarem jogando, enquanto escondem a extensão desse comportamento. Essas pessoas não conseguem fazer qualquer tentativa séria de planejar sua vida financeira ou economizar. Quando seus recursos emprestados terminam, tendem a apresentar comportamentos anti-sociais, a fim de obterem mais dinheiro para jogar. Quando chegam a desenvolver o comportamento criminoso para obtenção de dinheiro, tipicamente não são violentos, mas é comum envolverem-se com falsificação, fraude ou estelionato, com a intenção consciente de devolver ou repor o dinheiro.
O curso desse transtorno tem altos e baixos, e tende a ser crônico. Considera-se que há três fases importantes no ciclo do jogo patológico: primeiro a fase do ganho que é marcada por uma grande vitória e que prende o paciente, depois vem a fase da perda progressiva em que o paciente passa a estruturar a sua vida em torno do jogo e costuma endividar-se, e por fim vem a fase do desespero em que a pessoa começa a apostar freneticamente grandes quantias eixando de pagar suas dívidas e envolvendo-se com agiotas e criminalidade. Estima-se que leve cerca de 15 anos para o indivíduo atingir a fase do desespero, mas esta última fase costuma levar de um a dois anos para levar a pessoa a total deterioração.
As complicações incluem afastamento da família e amigos, perda de bens conquistados durante a vida, tentativas de suicídio e associação com grupos marginais e ilegais. É importante lembrar que a detenção por crimes não violentos também podem levar à prisão. 
A pessoa que sofre desse transtorno deve buscar ajuda profissional de Psicólogos e Psiquiatras, afim de realizar um tratamento sério para reequilibrar o seu funcionamento biopsicossocial. O tratamento também pode envolver o afastamento dos lugares onde a pessoa poderia ter acesso a jogos.