17 de mai. de 2016

DEPRESSÃO: compreenda o que ela faz com a mente, o corpo e o comportamento das pessoas.

Leon Tolstói descreve o seu período depressivo da seguinte maneira:
“ Minha vida teve uma parada súbita. Eu era capaz de respirar, comer, beber, dormir. Não podia, na verdade, deixar de fazer isso, mas não havia vida real em mim”.

O transtorno depressivo vem sendo estudado há muito tempo, e apesar de ter suas causas desconhecidas, considera-se que seja uma interação dinâmica entre fatores biológicos, genéticos e psicossociais. Dentre os fatores biológicos a ciência realizou descobertas impressionantes, que possibilitam explicar, ao menos parcialmente, as causas da depressão.
Esses fatores biológicos podem ser divididos em:

*DESREGULAGEM DOS NEUROTRANSMISSORES:
Há uma alteração na produção e funcionamento de substâncias importantes ao funcionamento cerebral, como a noradrenalina, a seretonina, a dopamina, a endorfina, a acetilcolina, e a vasopressina.

*DESREGULAGEM NEUROENDÓCRINA:
Há alteração na produção de hormônios importantes ao funcionamento mental e corporal, podendo haver alterações do eixo adrenal, da tireóide e do hormônio do crescimento. Pode ainda haver a diminuição da secreção noturna de melatonina, liberação diminuída de prolactina, níveis basais diminuídos do hormônio folículo-estimulante e hormônio luteinizante, bem como a redução dos níveis de testosterona nos homens.

Todas essas descobertas sobre a depressão demonstram que ela deprime o funcionamento cerebral, alterando funções básicas de sobrevivência como a sede, a fome, o sono e o sistema imunológico.
Entretanto, mesmo diante tanto conhecimento já alcançado, a depressão ainda não pode ser diagnosticada através de exames de sangue, urina, ou de imagem cerebral. Todos esses exames são solicitados pelos médicos, com a finalidade de descartar outras doenças que poderiam estar simulando os mesmos sintomas da depressão. O diagnóstico do transtorno depressivo é essencialmente baseado na observação clínica dos sintomas.
Então vamos aos sintomas!
Muitas pessoas acreditam que depressão é sinônimo de tristeza, mas não é. O humor deprimido (ou o sentimento de tristeza) pode estar até ausente, pois caso a pessoa esteja experimentando uma redução importante na sua capacidade de interessar pelas coisas, ou mesmo de sentir prazer, já podemos considerar a depressão.
Os principais sintomas são o Humor deprimido, (que nas crianças pode ser visto como humor irritável), e a redução da capacidade de se interessar pelas coisas ou sentir prazer (são comuns relatos das pessoas deixarem até de sentir o sabor da comida).
Os demais sintomas envolvem alteração de peso sem dieta, dificuldades com o sono (a pessoa pode ficar com insônia, ou ter a necessidade de sono aumentada), agitação, retardo psicomotor, fadiga, perda de energia,  sentimento de inutilidade, sentimento de culpa excessiva e inapropriada, capacidade de concentração e memória reduzidas, pensamentos recorrentes sobre a morte, insatisfação com a própria vida, tendência a se afastar das pessoas.
A depressão pode ocorrer em um único episódio, ou ter recorrentes episódios ao longo da vida, apresentando intensidades diferentes, e normalmente cada vez mais graves. Estágios mais avançados desse transtorno podem levar a pessoa a desenvolver sintomas psicóticos e até a catatonia (estado em que a pessoa permanece imóvel). Pessoas que sofrem de depressão profunda relatam sentir uma dor emocional muito intensa. É muito comum que diante a melhora dos sintomas mais intensos, os pacientes cometam suicídio, e é por esse motivo que podemos dizer que a depressão mata. Alguns pacientes que chegaram a tentar suicídio, mas conseguiram ser salvos, relatam que fizeram esse ato de desespero pelo medo de voltar a sentir o que vivenciaram durante a fase mais intensa dos seus episódios depressivos.

É importante ressaltar que a pessoa não precisa apresentar todos os sintomas para ter a depressão, e caso apresente qualquer dos três sintomas que foram mencionados, por mais que duas semanas, é importante que procure ajuda profissional para fazer um diagnóstico mais exato, e começar com o tratamento o quanto antes possível, a fim de ter uma perspectiva melhor de não vir a sofrer com os sintomas mais graves da depressão no futuro.

10 de mai. de 2016

UM BREVE HISTÓRICO DA DEPRESSÃO: entenda o preconceito

O histórico da depressão é muito importante para entendermos porque as pessoas desvalorizam tanto esse problema grave. Se engana quem pensa que a depressão é uma doença da moda, ou uma doença nova, dos tempos modernos. A depressão atinge a humanidade há milhares de anos. Podemos encontrar referências à esse transtorno entre os escritos de Hipócrates, Platão, Shakespeare, Homero, Fairet e até mesmo na Bíblia Sagrada. Na Grécia Antiga a tristeza profunda acompanhada de afastamento da realidade externa, sentimentos de culpa exagerados e tendências suicidas, era conhecida por Melancolia. Hipócrates (um antigo pensador grego) atribuía a causa da depressão ao acúmulo de bile negra no organismo, e o tratamento consistia em expurgantes, o que não ajudava nada. Platão descreveu a mania ou a fúria dos poetas como sendo um estado de excitação. Homero descreveu em Ilíada um herói desfavorecido pelos deuses que “...vagava sozinho, a alma por dentro a roer e a fugir do convívio dos homens...”. Na Bíblia Sagrada vemos referências à natureza depressiva do rei Saul, como também há uma descrição interessante da depressão no Livro de Jó. Areteo de Capadócia (50 – 130 A.D.) considerou que as síndromes maníacas e depressivas constituiam um só transtorno, diferenciando apenas síndromes somáticas (acúmulo de atrabílis) e reativas (mal do amor).
Entretanto, na Idade Média a censura da Igreja ao pensamento greco-romano fez cessar a busca pelo conhecimento científico-natural, fazendo surgir então o pensamento mágico religioso. Foi nesse período que as doenças receberam a conotação de pecado, vício e problema ético-moral. Sendo assim, todos os doentes psíquicos (inclusive os depressivos) foram incluídos entre os feiticeiros, possuídos, e ociosos. Essas teses religiosas, apesar de infundadas influenciam até os dias de hoje o pensamento popular sobre os distúrbios mentais. Ou seja: grande parte da população acredita que a depressão possa ser fruto de influência demoníaca, ou ociosidade, e que o remédio para a depressão seja trabalhar.
Nos últimos anos a “DEPRESSÃO” popularizou-se ainda mais, tanto por ser um transtorno psiquiátrico importante, que teve grandes avanços científicos e tecnológicos de diagnóstico e tratamento, quanto pela gravidade e abrangência epidemiológica, pois hoje ela atinge cerca de 20% da população mundial e pode levar a pessoa a cometer suicídio.
Existem muitos preconceitos e informações inverídicas que sustentam um comportamento populacional inadequado. É preciso ler, entender, conhecer a Depressão, pois certamente em algum momento da vida todos irão conviver com ela, seja sofrendo pelo transtorno, seja convivendo com alguém que sofre.

Confira a próxima postagem em que explicarei um pouco sobre como a depressão age no cérebro, corpo e comportamento das pessoas.


3 de mai. de 2016

Fobia

Vamos conversar um pouquinho sobre os medos? Você sabia que todos temos medos, e que os medos são sentimentos derivados da ansiedade? Pois é! O medo é uma das emoções mais básicas do ser humano, e graças ao medo nossa espécie sobreviveu até os dias de hoje! O medo de morrer nos faz reconhecer situações perigosas, impedindo de pular grandes alturas, nos mantém distantes de cobras, leões, ursos... Ele é necessário para que evitemos perigos, e na medida certa é muito saudável. Na vida do homem das cavernas o medo era um sentimento essencial, pois diante qualquer situação que representasse risco à sua vida ou integridade física, o medo era ativado, liberando uma série de hormônios e substâncias neuroquímicas que ativam o sistema nervoso simpático e parassimpático, preparando o homem para lutar ou correr. Só que as eras se passaram, a vida das pessoas hoje mudou muito. Hoje situações que podem ser percebidas como um risco à vida e a integridade, podem não ser tão graves assim, como uma mulher usando um vestido igual ao meu numa festa, ou a presença de um colega de trabalho muito competitivo. Mas o cérebro as entendem como se fossem perigo, gerando sentimentos de insegurança, que por períodos prolongados podem levar à estafa, ou criando os medos patológicos, que como muitos já devem ter ouvido falar, são chamados de FOBIAS. Como há uma grande variedade de medos, a criatividade para dar nome às fobias é incrível: aracnofobia (medo de aranhas), hidrofobia (medo de àgua), claustrofobia (medo de lugares fechados), narebofobia (medo de nariz grande), rsrsrs tá certo a última eu inventei! Mas foi uma brincadeira, pois não importa do que você tem medo, importa como você se sente! Se você perde a razão, o controle sobre suas emoções e comportamentos, sente-se oprimido por esse medo, e ele não é racional, é simplesmente uma fobia. O medo patológico é algo que domina a mente da pessoa, e faz com que ela viva em função disso, elaborando estratégias para se esquivar do medo, e quanto mais a pessoa se esquiva do medo, maior ele se torna e mais comportamentos de esquiva a pessoa sente a necessidade de desenvolver, até que a pessoa tem parte de sua vida prejudicada por um medo irracional e sem sentido. Vou dar um exemplo: uma pessoa começa a pensar que morcegos são animais perigosos, e um dia pensa que um morcego poderia entrar pela janela da sua casa (mesmo nunca tendo entrado nenhum, e nem havendo nenhum ninho por ali perto). Então pelo medo de que o morcego entre pela janela da sala, a pessoa começa a manter a janela fechada quando está na sala. Mas depois a pessoa precisa manter a janela da sala sempre fechada, e aos poucos isso se estende para os outros cômodos da casa. A cada dia que o morcego não entra pela casa, ao invés de mostrar para a pessoa que não há perigo, ao contrário, ela pensa que é graças ao seu comportamento de esquiva (ou seja, ter fechado as janelas), que o morcego não entra, e por isso continua mantendo todas as janelas fechadas. A melhor maneira de superar os medos é enfrenta-los. Algumas pessoas podem ser capazes de fazer isso sozinhas, por sentirem-se fortes para isso. Outras no entanto podem estar mais fragilizadas, e assim precisarem da ajuda de um psicólogo para conseguirem enfrentar e superar seus medos. Mas lembrem-se de analisar o próprio medo antes de começar a pensar que está sofrendo de fobia! Se for um medo racional e funcional, que não atrapalhe sua vida não tem problema! Os medos certos e na medida certa são bem saudáveis!

Desejo a todos um ótimo dia, livre de morcegos, leões e jararacas!!!

Papai presente

O papel de um pai da vida dos filhos é inegavelmente importante, pois é a presença paterna que auxilia a pessoa a: desenvolver habilidades sociais mais expansivas, ser autoconfiante, entre outras habilidades, que são diferentes das ensinadas pelas mães. Diversos estudos realizados, em diferentes universidades dos EUA e da Europa, demonstraram que famílias ajustadas com mãe e pai presentes de forma física e emocional na vida dos filhos, são fundamentais para o sucesso na vida escolar e profissional, na prevenção do envolvimento dos jovens com drogas e criminalidade, bem como para a formação futura de famílias bem sucedidas. Entretanto o papel do pai não é simplesmente o de existir, ou de trabalhar e levar dinheiro para casa. Nunca foi só isso, mesmo quando pensamos nos tempos em que as mulheres ficavam em casa cuidando exclusivamente da família.
Desde os tempos em que o homem era o provedor da família até os dias de hoje, sempre houveram aqueles que se envolviam mais com o cotidiano dos filhos, e assim ensinam valores, cobram posturas e comportamentos, acompanham e auxiliam no rendimento escolar. Infelizmente esse tipo está cada vez mais raro. E também sempre houve aqueles que “não tem cabeça para isso”, pois pensam que a função deles é a de trabalhar e prover dinheiro, pois a mulher deve cuidar de todo o resto. Quantas pessoas não são capazes de reconhecer o pai que chega em casa do trabalho, toma banho, janta, vê televisão e se ocupa do celular até a hora de dormir? Pois é, não mudou muito, só se acrescenta o celular! O assustador na verdade, é que o índice de pais que participam do cotidiano familiar está cada vez menor. Claro que existem muitos fatores novos a serem considerados. Os pais normalmente tornam-se ainda mais ausentes quando não vivem na mesma casa que os filhos, e normalmente isso não é razão suficiente para esse comportamento.
O envolvimento do pai na vida dos filhos vai muito além ao provimento financeiro, e começa muito antes dos pequenos começarem a engatinhar!  É compreensível que durante a gestação a maioria dos homens não consigam estabelecer um contato muito próximo com o bebê, até mesmo porque essa é uma fase de transição importante, muitos tem dificuldades com a figura paterna de suas lembranças, ou não estão confiantes de seu próprio papel paternal. Entretanto a partir do momento do nascimento surge o compromisso e a necessidade da formação desse vínculo afetivo, pois o filho agora é uma pessoa única e presente para se relacionar com quem quer que esteja interessado. É também uma pessoa absolutamente dependente de cuidados, que não precisam ser exclusivamente maternos. Bebês não precisam só do leite materno, eles precisam trocar de fraldas (se o papai morre de nojo de um cocô, porque a mamãe não sentiria o mesmo?), tomar banho, arrotar, e de muito, muito, muito colinho, inclusive de madrugada, TODOS OS DIAS.
Conforme esse bebê cresce, aumentam as oportunidades para o pai se envolver na rotina do filho. O pai pode participar da inserção de frutas, papinhas e sucos, ajudar o bebê a aprender a andar e falar, brincar de bola e do que mais tiver que a criança goste, ajudar a criança a ir no banheiro e assim facilitar a consolidação do desfraldamento. Também é interessante a participação ativa nas refeições das crianças, estimulando as crianças a comerem de forma saudável. Em todos esses momentos a construção dos laços afetivos se solidificam, facilitando as tarefas mais importantes (e também as mais difíceis) no desenvolvimento dos filhos. Afinal de contas, logo vem a vida acadêmica da criança, em que os pais precisam estudar junto aos filhos, acompanhar a vida escolar e a socialização das crianças. Não dá para esperar chegar a adolescência, pois nessa fase os laços afetivos precisam já estar consolidados, para que o adolescentes tenha confiança na família em guia-lo para a vida adulta. A confiança vem de laços afetivos fortes e construídos ao longo do tempo, o que é responsabilidade dos pais em formar, não basta só a mãe, ou só o pai, é preciso dois, assim como foi preciso na hora de conceber. A mãe é capaz de fazer uma parte, mas não o todo, e o oposto também é verdade.
Observo muitas mulheres, desde aquelas que os filhos já estão adultos, até aquelas cujos rebentos ainda são recém-nascidos, entre as que ficam em casa cuidando da família e as que saem para trabalhar igual aos maridos, e cerca de 80% dessas mulheres se queixam que os maridos nunca ajudam. São queixas bem variadas sobre o que os homens não fazem para ajudar: não trocam fraldas (principalmente as de cocô), não dão banho, não colocam para dormir, não sabem fazer a mamadeira (que tem a receita impressa no rótulo do leite), não ficam com a criança para a mulher fazer outras coisas (não ficam nem para a mulher fazer as tarefas da casa, menos ainda para elas descansarem), não ajudam com as tarefas escolares, etc. Mas as duas queixas campeãs são: não acordam à noite quando o filho chama, chora, acorda, etc., e não ajudam a educar com limites. Entretanto, muitas vezes o problema pode estar com as mães, que centralizaram todos os cuidados do bebê, atrapalhando a aproximação do pai, no momento mais delicado, que é o da formação de uma vida a partir do começo.  É muito comum as mulheres assumirem todas as responsabilidades, como se o bebê fosse apenas delas, uma atitude bastante responsável, mas bem prejudicial para o próprio bebê, pois o pai também está devidamente qualificado para cuidar, e precisa cuidar para aumentar o vínculo. Claro que esse não é o único motivo, existe também o cultural e do comodismo, mas é preciso comprometer o pai na função de cuidar do filho em qualquer situação, pois a aproximação através dos cuidados promove um vínculo afetivo tão forte que é capaz de superar quase todas as barreiras.
Boas dicas:
O papai pode trocar as fraldas
O papai pode aprender a ler os rótulos e assim saber fazer a mamadeira
Os papais podem se divertir muito lendo histórias, inventando contos, cantando e brincando com o bebê

Os papais que revezam a noite com as mamães sentem-se mais próximos dos filhos