30 de ago. de 2016

Conversar de forma eficiente

Vamos começar com aquela frase que já escrevi muitas vezes: “Somos seres humanos, portanto somos seres sociais em nossa constituição”. Nossa humanidade está condicionada ao relacionamento social, pois é através das trocas que realizamos com as outras pessoas que construímos nossos conceitos sobre o mundo, as pessoas, os grupos e sobre nós mesmos. Percebe o quanto o relacionamento que estabelecemos com as pessoas é importante?
Agora vamos à comunicação, que é o veículo formador das relações. A qualidade da comunicação interfere de forma direta na qualidade dos nossos relacionamentos, na forma como vemos as pessoas, o mundo e a nós mesmos. Podemos perceber claramente isso em pessoas que tem uma qualidade notória, que algumas percebem e ao elogiar percebem que a pessoa não acredita que seja verdade. As falhas na comunicação podem ocorrer em decorrência de um transtorno mental, como por exemplo a depressão, que distorce o pensamento de forma negativa, mas também podem ser construídas por aprendizados errôneos como o propagado pelo ditado que diz que pingo é letra.
Podemos dizer                 que quando há mal entendidos, desentendimentos, desavenças, brigas e disputas, é porque a capacidade de comunicação das pessoas falhou miseravelmente.
Existem muitas formas de falhar na comunicação, vou dar o exemplo das duas formas mais usadas:
A primeira é fazer monólogos, que é quando a pessoa acredita que irá dizer um monte de coisas que está pensando a uma outra pessoa, e isso será suficiente para que ela obtenha o resultado que espera. Acontece que ninguém é um receptáculo passivo, as pessoas tem seus próprios pensamentos e sentimentos, e a forma como irá receber o que lhe foi dito pode variar imensamente. Um exemplo clássico disso, é a figura do professor dando uma bronca em uma turma, fazendo um monólogo, pois só ele fala. Uma minoria dos alunos irá se sentir mal com aquilo, envergonhados talvez, outros podem sentir como se a bronca fosse dirigida exclusivamente à eles e de forma injusta pois não participaram daquela bagunça, outros talvez nem entendam a reação do professor, outros podem achar que ele está exagerando, e por aí vai um monte de opções mostrando que infelizmente o professor não conseguiu atingir seu objetivo através do monólogo. Casais, pais, filhos, colegas, chefes e colegas de trabalho que tentam resolver suas questões através de monólogos, já devem ter descoberto que não funciona, pois quase sempre a outra pessoa entende tudo de uma forma diferente da que você queria. Por isso o diálogo é bem mais eficaz, pois assim é possível ir verificando e corrigindo a comunicação, para ter um efeito final bem melhor. O diálogo muitas vezes traz resultados diferentes do que se pretende no inicio, mas com certeza trará um resultado que será bem melhor para todos envolvidos.
O segundo problema comum de comunicação é a leitura subliminar, ou como alguns gostam de dizer “ler nas entrelinhas”. Essa linguagem de fato existe, mas ela é obvia, como um rosto evidente de tristeza ou alegria, uma postura corporal calma ou agitada, e não tem toda essa invenção de interpretações mirabolantes de que se a pessoa disse uma coisa quis na verdade dizer outra, se a pessoa mexeu no cabelo com tal postura ela quer dizer outra coisa. Esse tipo de interpretação do outro é totalmente falha, pois na verdade essa forma interpretação não corresponde ao comportamento do outro propriamente dito, mas sim às expectativas da pessoa que está interpretando. A “ciência de ler nas entrelinhas!” até existe, mas ainda está pesquisa, não temos nenhum dado suficientemente viável para ser usado com segurança, e mesmo especialistas nesse campo de conhecimento não ousariam interpretar uma pessoa com base em um gesto, um tom de voz ou uma palavra dita no meio de muitas outras. Há pessoas que se apegam à uma palavra que outro disse e a distorcem dando um significado diferente, ou se durante a conversa tomavam um suco e o suco do outro estava azedo e ele fez uma careta, mesmo com o outro falando que o suco estava azedo, a pessoa entende que aquela careta tem muitos outros significados. Os exemplos são infindáveis, mas resumindo, tentar interpretar o outro é um gasto de energia absurdo e inútil, precisamos nos apegar às palavras e aos fatos, sem interpretar. Por isso, ao invés de buscar interpretar o que uma pessoa está querendo dizer ou esconder de você, simplesmente pergunte à ela, usem as palavras e se esbaldem com a riqueza de vocabulário do português em uma conversa, e não na imaginação. Lembrem-se que apesar do ditado: pingo não é letra!
Uma comunicação de qualidade exige que aja um emissor (pessoa que envia a mensagem), um veículo (a fala, a escrita, etc.) e um receptor (a pessoa que recebe a mensagem). Além disso, é importante que o veículo seja de conhecimento de ambos, pois não adianta mandar uma mensagem em português para uma pessoa da Noruega que não conhece o idioma português, pois a pessoa não entenderá a mensagem,  e portanto não haverá comunicação. Pode-se dizer o mesmo a respeito das palavras substitutas: colóquios, palavrões, gírias e expressões culturais. Essas palavras substitutas só fazem sentido e se encaixam na comunicação quando as duas partes compreendem.  Muito além de apenas enviar uma mensagem, é preciso saber que a outra pessoa recebeu, e como recebeu essa mensagem, para que a comunicação seja eficiente, é preciso que haja a troca, e assim as duas pessoas  trocam de papéis, e ambas são receptores e emissores... Isso ficou a uma aula chata de comunicação né... Mas tudo isso se torna importante para explicar uma das melhores funções da comunicação: o DIÁLOGO.

 Para dialogar é preciso estar atento, e querer não apenas falar, mas também ouvir, ser emissor e receptor, estar aberto a troca de compreensão. O resultado do diálogo é a compreensão mútua e não a imposição de um pensamento unilateral, por isso é importante estar aberto a ceder também. Parece uma má ideia, mas o resultado do diálogo sempre irá trazer satisfação a todas as partes da comunicação, e não haverá ganhadores e perdedores, pois todos ganham! As pessoas cedem naquilo que podem ceder e conquistam aquilo que realmente importa, tudo isso sem estragar o relacionamento e mantendo aberta a comunicação, que fortalece o relacionamento.

23 de ago. de 2016

Higiene do sono: como dormir bem.

Dormir bem é extremamente importante para nossa saúde e bem estar. Além nos manter descansados e bem dispostos, o sono tem muitas funções reguladoras.  Apenas quando estamos dormindo que o nosso cérebro entra em modo REM, que garante a formação de memórias, solidificando todo o conhecimento obtido ao longo do dia. Existem muitos estudos indicando que dormir pouco (menos que o recomendado) ao longo da vida predispõe a pessoa a desenvolver doenças demenciais (doenças neurodegenerativas). O sono também é o momento em que o corpo produz hormônios importantes para o bom funcionamento do corpo, sendo o mais importante deles o hormônio do crescimento, que interfere diretamente no metabolismo basal. O mais interessante nisso tudo, é que as principais funções do sono só funcionam quando dormimos à noite, ou seja, não adianta compensar dormindo de dia, ou dormir mais no final de semana, é preciso dormir ao menos suficiente todas as noites. Sendo assim a falta de sono adequado além de lhe deixar cansado e mau humorado no dia seguinte, também irá lhe causar dificuldades de atenção, de memória, deixar seu corpo mais lento, e em grande frequência ainda pode lhe causar síndromes metabólicas e demenciais.
Muitas pessoas tem dificuldades importantes de sono, que pode ter surgido das formas mais inesperadas e inusitadas possíveis. Alguns conseguem regular seu sono naturalmente e voltar ao normal em pouco tempo, outros acabam verdadeiros problemas e recorrem ao uso de remédios. O uso de remédios para dormir é muito contra indicado, pois a maioria dos medicamentos para induzir ao sono acabam interferindo negativamente na qualidade do sono, e este passa a não desempenhar todas as suas funções necessárias ao nosso bom funcionamento. Claro que existem casos que a pessoa precisa escolher entre não dormir ou dormir com o medicamento, e nesses casos se recorre ao medicamento até que se consiga restabelecer o sono normal. Entretanto podemos observar que muitas pessoas diante uma fase difícil da vida, em que estão mais preocupadas que o comum, começam a apresentar alguma dificuldade para adormecer e logo recorrem a medicamentos para induzir o sono, tornando-se emocionalmente dependentes desses ao longo de muitos anos de suas vidas.
É muitos importante trabalhar para desenvolver uma boa qualidade de sono, para os que tem dificuldades com o sono, já aviso que não será um caminho rápido, apesar de ser  relativamente fácil. Não adiante aplicar a higiene do sono ao longo de apenas duas ou três semanas e esperar resultados milagrosos. O que a higiene do sono propõe é condicionar seu corpo e sua mente a dormirem de noite, um sono reparador, e o condicionamento, assim como todo aprendizado, leva um tempo para se fixar. Todas as dicas fornecidas aqui são uma forma de generalização, claro que existem nuances e detalhes da realidade de cada pessoa, que precisam ser ajustadas. Vamos à higiene do sono:

NÃO DURMA DURANTE O DIA, QUALQUER COCHILO QUE PASSE DE 30MIN, OU QUE SE ESTENDA APÓS AS 14H IRÁ INTERFERIR MUITO NEGATIVAMENTE NO SEU SONO. O ideal é que a pessoa nem faça o cochilo de 30 min.

PRATIQUE ATIVIDADE FÍSICA, DE PREFERÊNCIA NA PARTE DA MANHÃ, E NUNCA APÓS AS 17H. Atividade física deixa corpo e mente alertas e acelerados. Não é preciso grande quantidade, nem intensidade, uma caminhada suave de 30min já desempenha um maravilhoso efeito sobre o sono das pessoas.

REDUZA O CONSUMO DE AÇUCAR E CAFEÍNA NO COTIDIANO, E NÃO OS CONSUMA APÓS AS 17H. Ou seja, reduza o chocolate, o café, os refrigerantes (sobretudo coca cola e Pepsi), chá preto, alimentos, suplementos e medicamentos que contenham cafeína, bem como todos os doces.

NO JANTAR DÊ PREFERÊNCIA A REFEIÇÕES LEVES. Estômago muito cheio pode atrapalhar o sono, e até causar refluxo.

A PARTIR DAS 20H (CASO QUEIRA DORMIR ÀS 22H) MUDE O AMBIENTE DA SUA CASA:
                -MANTENHA A ILUMINAÇÃO DA CASA BEM ESCURA, USANDO ABAJURES FRACOS OU LUZES INDIRETAS, DE PREFERÊNCIA AMARELADAS. SE EM UM COMODO TIVER UMA TV LIGADA, A LUZ DELA JÁ SERÁ SUFICIENTE. Escurecer a casa é importante para o seu corpo entender que chegou a noite e começar a liberar hormônios como a melatonina, que irão ajudar na indução do sono.

                 -REGULE SUA TV: ABAIXE O SOM (VOL.10) E REDUZA O BRILHO (MODO DE ECONOMIA MÁXIMA). Acredite você será capaz de ver e ouvir todos os detalhes da sua programação assim, enquanto começa a relaxar sua mente e corpo. *O mesmo vale para celulares, tablets e computadores.

                -EVITE AO MÁXIMO ASSISTIR TV OU LER NA CAMA, ESTE MÓVEL FOI FEITO PARA DORMIR, FAÇA SEU CORPO ASSOCIAR ISSO.



***ESTABELEÇA UMA ROTINA DO SONO***

Vou colocar uma sugestão de como fazer, todos os itens inclusos aqui são valiosos na hora de treinar o corpo para dormir. Mude a ordem sugerida caso prefira, mas lembre-se que todos os dias deverá seguir a mesma ordem. Sobretudo lembre-se que o seu caminho é para a cama, então não tenha pressa em fazer nada disso, faça tudo de forma calma e lenta.

*TENHA UM JANTAR LEVE, SEM ENCHER DEMAIS SEU ESTÔMAGO.

*TOME UM BANHO MORNO E RELAXANTE, E TOME UM PEQUENO TEMPO PARA SENTIR A AGUA QUENTE CAINDO SOBRE SUAS COSTAS.

*COLOQUE SUAS ROUPAS DE DORMIR.

*TOME UM CHÁ (CAMOMILA, ERVA DOCE, MELISSA, CIDREIRA, MAÇÃ, ETC., MAS EVITE OS CHÁS TERMOATIVOS E  OS QUE TENHAM CAFEÍNA).

*ESCOVE OS DENTES.

*PERMANEÇA AGINDO DE FORMA CALMA E LENTA, E SÓ VÁ PARA A CAMA QUANDO SENTIR SONO.

*AO DEITAR NA CAMA ACONCHEGUE-SE E CONCENTRE-SE EM RESPIRAR LENTAMENTE E RELAXAR OS MÚSCULOS DO CORPO. A hora de dormir não é a hora de pensar nos compromissos do dia seguinte, nem dos próximos dias, não é hora de pensar na solução de problemas, nem em nada. É apenas hora de ouvir seu corpo, relaxando a respiração e soltando a tensão de todos os seus músculos.

*SE ACORDAR NO MEIO DA NOITE PARA BEBER AGUA OU IR AO BANHEIRO, VÁ NO ESCURO MESMO, FAÇA APENAS SUA NECESSIDADE E VOLTE DIRETO PARA A CAMA, SEM PENSAR EM MAIS NADA.

*CASO PERCA O SONO, NÃO FIQUE ROLANDO NA CAMA, LEVANTE MANTENDO-SE EM AMBIENTE ESCURO (PENUMBRA), E VÁ LER OU VER TV COM POUCA LUZ E SOM MUITO BAIXO, SE PREFERIR TOME UM CHÁ NOVAMENTE.

LEMBRE-SE QUE ISSO É UM CONDICIONAMENTO, LEVA TEMPO, E PORTANTO A PERSISTÊNCIA É O SEGREDO DO SUCESSO.
Também é importante ressaltar que há muitos fatores que podem interferir em seu sono no futuro, como a expectativa por eventos futuros, preocupações, etc. Isso não é motivo para desesperar e começar a pensar que está com problemas de sono novamente, você apenas estará num momento complicado da sua vida e precisará manter sua rotina noturna até que seus padrões de sono voltem ao normal.



16 de ago. de 2016

Compulsão Alimentar

No ano de 1961, pela primeira vez as diretrizes nutricionais das autoridades mundiais guiaram as pessoas para reduzir o consumo de gorduras, indicando que óleos vegetais refinados seriam mais “saudáveis” que a gordura natural, bem como a divulgação de uma pirâmide alimentar colocando grãos e cereais como a base da alimentação e açúcar como o topo. O resultado disso 40 anos depois, é que temos uma epidemia mundial de obesidade, um aumento absurdo da incidência de doenças cardíacas, e a crescente contagem de diagnósticos de transtornos alimentares.
Entre os transtornos alimentares encontramos a anorexia, a bulimia nervosa e a compulsão alimentar. A anorexia apresenta relatos de sua observação desde a época de Cícero (106-43 a.C.) e ganhou essa denominação em 1873 com William Gull, que relatava incidir principalmente sobre mulheres jovens que buscavam uma magreza absoluta e apresentavam ausência de fome, reparamos assim que é bem antiga. Entretanto transtornos como a bulimia e a compulsão alimentar apresentam relatos mais recentes, coincidentemente começaram a ser observadas em torno da década de 80. A Bulimia nervosa apresenta seus primeiros relatos datados de 1979, caracterizada por episódios de ingestão compulsiva e rápida de grandes quantidades de alimento, alternada com comportamentos de perder peso (episódios expurgativos).  E o objeto de estudo que buscamos nesse post, a compulsão alimentar, apresenta seu primeiro relato por Stunkard em 1959, tendo sido reconhecida como uma síndrome apenas em 1977 por Wertmuth et al, inicialmente associada à bulimia. Somente em 1991 a compulsão alimentar passou a ser reconhecida como uma categoria isolada que necessitava de pesquisas mais incisivas. Ou seja, uma doença bem recente, que só se desenvolveu após as recomendações nutricionais terem sido estabelecidas como as vemos hoje.
Como é preciso encontrar as causas desse problema, as pesquisas buscaram encontrar “razões”, buscando perfis psicológicos, o que nunca pode ser definido, pois não há características comuns entre os portadores desse transtorno. Cheguei a ler em alguns artigos que o compulsivo alimentar é uma pessoa que não se importa com sua forma física... Isso não reflete a realidade, pois podemos ver o quanto se sentem discriminados, se sentem culpados por não conseguirem emagrecer, e há casos até mesmo de se isolarem socialmente. Então a “culpa” recai sobre os hábitos alimentares e a “predisposição” da pessoa a desenvolver esse transtorno, assim como ouvimos muitos dizerem que "come muito porque quer", e até mesmo atribuir a "sem vergonhice", o que também são grandes engodos, visto que se trata de compulsão, estando longe do alcance da pessoa de exercer controle por esse comportamento, além de sofrer com isso diversos sentimentos negativos.  Os dados oficiais divulgados estimam que a prevalência da compulsão alimentar seja de 2% na população, mas repare na descrição dos critérios diagnósticos:
1 – ingestão em um período limitado de tempo de uma quantidade de alimento definitivamente maior do que uma pessoa deveria consumir (ou seja, não come muito o tempo todo, mas sim em EPISÓDIOS)
2 – sentimento de falta de controle sobre o consumo alimentar durante o episódio (não da qualidade mas sim da quantidade, como a pessoa que come o pacote todo de biscoito)
*comer até sentir-se repleto, comer rapidamente, comer grandes quantidades de alimento quando não fisicamente faminto, sentir-se mal consigo mesmo após comer
3 – angústia relativa aos episódios periódicos (a pessoa sente culpa sim)
4 – Ter pelo menos dois episódios por semana, ao longo de 6 meses
E se começarmos a refletir, conhecemos muitas pessoas que apresentam esse comportamento, em determinados horários, fases da vida, ou mesmo em períodos de estresse. Muitas vezes, nós mesmos podemos estar apresentando esse comportamento mediante períodos de estresse emocional ou frustração, como um mecanismo de compensação. O fato de apresentar episódios uma vez por quinzena também é preocupante, por ser frequente.
Não é mais segredo as motivações emocionais que os alimentos representam para as pessoas. Todos temos os alimentos de “conforto”, normalmente envolve algum açúcar ou carboidrato simples (massas), e costumamos descontar frustrações recorrendo a esses alimentos. O interessante é que nunca conheci uma pessoa que usasse “alface” como alimento de conforto, e quem estiver lendo isso vai pensar: “é óbvio”. Mas porque é óbvio? Pela lógica da importância emocional, não vem a explicação do sabor, ou textura, pois seria simplesmente a ingestão. Mas sim, tem muito a ver, pois esses alimentos ricos em carboidratos eles tem um efeito especial, eles são produzidos para agradar excessivamente nosso paladar, e somos seres movidos pelo prazer. O que é mais apetitoso: uma pizza ou um pimentão? Resposta óbvia não é mesmo? Entretanto esses alimentos engordam muito, trazem sérios problemas de saúde, e são disparadores de compulsão. Portanto, os alimentos que uma pessoa identifica como disparadores de compulsão,  precisam ser evitados ao máximo, e mesmo quando for consumi-los, fazer com que seja de forma reduzida (como comprar uma coxinha e comer em outro lugar onde não possa comprar mais uma).
As pessoas comem, engordam, e ao longo da VIDA fazem o que? Dietas e regimes para tentar emagrecer, se impondo severas restrições alimentares,  até mesmo nutricionais, por longos períodos. Existem ainda as perspectivas de dietas em que a pessoa deve se impor padrões muito rígidos de alimentação, comendo de 3/3h quantidades calculadas de calorias. Acontece que a rigidez e a restrição alimentar são também fatores de precipitação da compulsão alimentar, pois todo comportamento restritivo gera por si só angústia e ansiedade, como também frustração. Toda pessoa exposta a esses sentimentos por longo período de tempo irá buscar um escape em algum momento. Além disso, o compulsivo alimentar tende a girar sua vida em torno da comida, pois acaba se tornando a sua principal fonte de prazer (visto que nas relações sociais pode ser discrmininado e até sentir-se retraído por vergonha do próprio corpo). Portanto uma dieta para comer de 3/3h irá fazer com que o compulsivo PENSE em comida o dia todo, reduzindo em muito as chances de conseguir controlar seus episódios.
Temos uma cultura muito ilógica, em que parece que as pessoas tem medo de passar fome, enquanto nunca se teve tanta oferta de alimento com a maior facilidade. Em nome de não passar fome as pessoas comem mesmo não sentindo fome, e isso não permite que nossos mecanismos naturais funcionem adequadamente. Aprendemos desde crianças a comer mesmo sem estar com fome. Com uma busca rápida na internet se encontra diversos artigos sobre como fazer crianças comerem, e como faze-los comer comidas saudáveis. Isso porque os pais aprenderam com seus pais, e sei lá, talvez com seus avós também, que é preciso obrigar a criança a comer “pelo bem dela”. Então se dá comida o tempo todo o dia inteiro para as crianças, e não se permite que elas sintam fome e através desse sentimento (fome) comam o brócolis, a couve flor, o espinafre, a vagem, a pera, o abacaxi, etc. Além de tornarmos a alimentação baseada em carboidratos, ainda as ensinamos a comer demais, obrigamos a comer até não aguentarem mais, e não as ensinamos a respeitar a saciedade. Quando obrigamos nossos filhos a comerem o tempo todo, e a comerem mais do que deveriam, bem como recorremos a alimentos mais saborosos e menos saudáveis para garantir o volume diário de ingestão, ao invés de garantirmos a qualidade diária de ingestão, estamos ensinando um padrão alimentar errado, e que nossos filhos irão carregar ao longo da vida podendo desenvolver problemas de saúde em decorrência disso.
O resultado de anos de compulsão alimentar acaba sendo a obesidade, e hoje observamos o boom de cirurgias barátricas. Acontece que um compulsivo alimentar passar por esse procedimento que é invasivo e pode colocar sua vida em risco (tanto no momento da operação quanto no pós operatório numa perspectiva de 3 anos), não vai ajudar em nada. Pode conseguir emagrecer em um primeiro momento e depois engordar tudo novamente ao longo de 5 anos, mas também pode romper os pontos cirúrgicos em um episódio de compulsão deixando vazar material gástrico no corpo, correndo risco de desenvolver infecções e até morrer. O correto é tratar a compulsão antes de pensar em fazer um procedimento como esse.
Dados interessantes mostram que a terapia cognitivo comportamental consegue sucesso no controle e redução da compulsão alimentar em 91% dos casos (Duchesne, 2007), entretanto não há dados que comprovem a redução de peso (relatado em apenas 24% dos casos), até mesmo porque o tratamento da compulsão é incompatível com as dietas restritivas tradicionais. A manutenção desse equilíbrio no comportamento alimentar entre os que não perdem peso entretanto não é mantida, e cerca de 42% acabam tendo recaídas após 1 ano, demonstrando a estreita relação entre a compulsão alimentar e os sentimentos negativos a respeito do próprio peso, e colocando em evidência a necessidade de associar terapia e emagrecimento através de metodologias mais funcionais (não restritivas -  e que são indicadas fontes de pesquisa sobre isso no final desse post).
Para tratar a compulsão alimentar é necessário acompanhamento psicológico e médico, pois muitas vezes há associado outros transtornos decorrentes da compulsão, como ansiedade e depressão, podendo ser necessária a administração de medicamentos psicoativos. E acredite, o tratamento da compulsão alimentar envolve não fazer nenhum tipo de dieta ou imposição restritiva alimentar. É importante considerar que precisamos ter uma alimentação saudável, associada com comportamento alimentar saudável. De nada adianta ser compulsivo com comida saudável, pois engorda do mesmo jeito! Por isso, quem se identifica compulsivo, precisa buscar ajuda profissional, para aprender a lidar com a compulsão, e não se jogar em novas dietas e regimes que irão desencadear novos episódios compulsivos.

Em minhas pesquisas por uma alimentação mais saudável e simples, encontrei muitas informações valiosas, baseadas em ciência de verdade, não sensacionalista e sem distorções para beneficiar uma determinada indústria. Essas informações me ajudaram a melhorar o perfil alimentar meu e da minha família, bem como a compreender os motivos da grande dificuldade de muitas pessoas em conseguir emagrecer. Gostaria de compartilhar com vocês essas fontes, e se alguém conhecer outras pode compartilhar também! 
Nesse link vocês podem ouvir o conteúdo sobre esse tema, sempre com a participação de médicos especialistas e o Dr. Souto, que é o autor do lowcarb-paleo.com (atenção especial aos podcasts n. #8 e #9).

Esse é o blog do Dr. Souto e logo abaixo algumas sugestões de leituras desse mesmo blog

  
REFERÊNCIAS
Terapia Cognitivo Comportamental em obesos com TCAP, Rev Psiquitr RS, 2007
Terapia Cognitivo Comportamental para problemas psiquiátricos: um guia prático, K Hawton, et. al,  Martins Fontes, São Paulo, 1997.
Compêndio de Psiquiatria: ciências do comportamento e psiquiatria clínica, Harold Kaplan et. al, 7ed, Porto Alegre: Artmed, 1997
Transtornos Alimentares: fundamentos históricos, Táki Ahanássios Cordás e Angélica Medeiros Claudino - Rev. Bras. de Psiquiatr: vol 24 suppl3, São Paulo, Dec 2002
Transtornos Alimentares, José Carlos Appolinário e Angélica Claudino - Rev. Bras. de Psiquitr: vol22 s2 São Paulo, Dec 2000 
Comportamento de restrição alimentar e obesidade, Fabiana Bernadi et. al - Rev. Nutr, vol.18 no.1 Campinas Jan 2005