19 de jul. de 2016

Ciúme

Nos registros históricos o ciúme surge com a formação patriarcal da sociedade, como uma necessidade masculina por garantir a fidedignidade de sua descendência. Nesse contexto, o ciúme foi a justificativa para a violência extrema que as mulheres sofreram por séculos, ao passo que à elas esse sentimento era proibido.
Apenas nos anos 60, com a revolução sexual e a possibilidade da mulher obter controle sobre sua fertilidade, bem como a quebra de muitos tabus sobre a sexualidade, a mulher começou a expressar esse sentimento da mesma forma que o homem.
Contudo, o ciúmes é um sentimento ligado à crenças a respeito de amor, auto preservação,  e baixa estima, que pode despertar emoções como raiva e tristeza. Acredito que já existia muito antes dos registros históricos, e que mesmo sendo proibido às mulheres no passado, elas também o sentiam, encontrando formas alternativas de expressá-lo.
Segundo Regina Navarro Lins (2007), as crenças e a importância do ciúme no repertório emocional de uma pessoa são construídas desde primeira infância, a partir de suas relações com a mãe e o pai. Para Lins, o adulto vive o amor de forma semelhante à sua relação amorosa com a mãe quando era uma criança pequena, pois bebê necessita de paz, aconchego e proteção, que obtém através do contato físico com outra pessoa. Quando está sozinho sente-se abandonado e chora na busca pelo colo e acalento; e essa é a primeira manifestação de amor. À medida que cresce a criança torna-se mais independente, entretanto esse amor ainda é o seu referencial de vida e sente medo de perdê-lo, por isso a criança pode mostrar-se “controladora, possessiva e ciumenta, desejando a mãe só para si”. Por isso associamos o medo de não sermos amados à perda de tudo, inclusive da vida, pois esse risco que é real na infância pode ser alimentado na idade adulta em uma família onde a dependência emocional dos pais é mantida. Nesses casos, quando surge um relacionamento amoroso a dependência é transferida para a outra pessoa, com quem irá tentar satisfazer suas necessidades infantis.
Se a pessoa só consegue ficar bem ao lado da pessoa amada, e amor é a solução de todos os problemas, a pessoa amada torna-se extremamente importante à sobrevivência. Assim surge o medo de perdê-la, desenvolvendo comportamentos de controle, possessividade e ciúmes. Apesar de socialmente tolerado na maior parte dos casos, isso faz com que as pessoas permaneçam juntas mais por necessidade do que pelo prazer na companhia um do outro, gerando expectativas infantis, como querer que o outro adivinhe o que sente ou deseja e esteja sempre pronto a fazê-lo feliz, assim como um bebê que depende que sua mãe adivinhe suas necessidades estando sempre atenta de forma exclusiva à ele. Tenta-se controlar a pessoa amada acreditando que assim diminuirá as chances de abandono, chegando-se a exigir que a outra pessoa submeta-se a prestar satisfações sobre seu dia ou até mesmo aceitar a vigilância constante. Encontramos ainda pessoas que inflam a própria autoestima quando seus pares demonstram ciúmes, e alimentam esse comportamento (podendo até instigar).
A questão do ciúme também está ligada à imagem que a pessoa tem de si mesma. Pessoas com baixa autoestima tendem a ser mais inseguras. “Quem é amado sente-se valorizado, com mais qualidades e menos desamparado. Portanto quanto mais intenso o sentimento de inferioridade, maior será a insegurança e mais forte o ciúme. O caminho mais fácil é tentar restringir ao máximo a liberdade do outro.” Pessoas que parecem ser autossuficientes socialmente, podem revelar-se extremamente inseguros e dependentes no contexto amoroso.
Pessoas com boa autoestima, que se consideram atraentes e interessantes não pensam que podem ser trocadas com facilidade, e percebem que se a relação acabar irão sofrer, mas também sabem que serão capazes de superar.
Em alguns casos a manifestação de ciúmes pode ser tão exacerbada, ou mesmo desviar da realidade, o que na psicologia e psiquiatria conhecemos como ciúmes patológico. Balliero (2008) relaciona o ciúmes patológico a diferentes transtornos mentais, como o Transtorno Obsessivo Compulsivo, Transtornos de Personalidade, Transtorno Delirante, Psicose Orgânica, Psicose Alcoólica, e Esquizofrenias. Entretanto a presença do ciúmes patológico não está condicionado à existência de um transtorno mental, podendo ser considerado de forma independente, desde que a presença do comportamento relacionado à ciúmes esteja interferindo na qualidade de vida e de relacionamento de uma pessoa.  Nesses casos a pessoa precisa de tratamento psicológico, podendo precisar de associação medicamentosa dependendo da gravidade do caso.
Existem formas da pessoa manejar o próprio ciúmes, de forma a relacionar-se melhor com seus pares, a seguir vão algumas dicas:
Entenda a vida social de seu parceiro(a) e aceite que vocês precisam interagir com outras pessoas. Procure compreender que seu par não pode controlar o comportamento dos outros, e que é muito diferente ser educado de ser permissivo, uma pessoa não pode ser condenada por ser educada.
Cuide de sua auto estima, valorize-se, busque realizar atividades que te façam sentir bem consigo mesmo, como cuidar de sua saúde, aparência e profissão. Muitas vezes o ciúmes é uma defesa do próprio ego, para não cair nessa armadilha trate de sentir-se interessante cuidando de si mesmo.
Esqueça a ideia de posse, manter uma pessoa ao seu lado é uma CONQUISTA, e não uma ameaça ao outro. Se uma pessoa está com você é porque quer assim. Lembre que ninguém é obrigado a estar com ninguém e as pessoas ficam juntas quando a companhia é agradável. Tentar obrigar o outro a estar com você já acaba com todo o prazer.
Racionalize, muitas vezes o ciúmes cria fantasias na cabeça da pessoa. Busque comparar seus pensamentos com a realidade, e não com outros pensamentos.
Controle seus impulsos, quando estiver nervoso não é hora de se expressar, acalme-se primeiro, reflita sobre a situação e só depois converse de calma, expondo o que te incomodou e como poderia ter sido evitado, estando aberto a ouvir o que a outra pessoa tem a dizer.
Não alimente o ciúmes e seja flexível, apesar de ser lisonjeador as vezes ver que seu par sente ciúmes de você, lembre quantos sentimentos desagradáveis a pessoa irá vivenciar com isso, e seja flexível afim de garantir que a pessoa consiga sentir-se segura no relacionamento.

Por fim, DIÁLOGO, sempre! Conversar de forma racional e ponderada é sempre o que fortalece os relacionamentos.