30 de ago. de 2016

Conversar de forma eficiente

Vamos começar com aquela frase que já escrevi muitas vezes: “Somos seres humanos, portanto somos seres sociais em nossa constituição”. Nossa humanidade está condicionada ao relacionamento social, pois é através das trocas que realizamos com as outras pessoas que construímos nossos conceitos sobre o mundo, as pessoas, os grupos e sobre nós mesmos. Percebe o quanto o relacionamento que estabelecemos com as pessoas é importante?
Agora vamos à comunicação, que é o veículo formador das relações. A qualidade da comunicação interfere de forma direta na qualidade dos nossos relacionamentos, na forma como vemos as pessoas, o mundo e a nós mesmos. Podemos perceber claramente isso em pessoas que tem uma qualidade notória, que algumas percebem e ao elogiar percebem que a pessoa não acredita que seja verdade. As falhas na comunicação podem ocorrer em decorrência de um transtorno mental, como por exemplo a depressão, que distorce o pensamento de forma negativa, mas também podem ser construídas por aprendizados errôneos como o propagado pelo ditado que diz que pingo é letra.
Podemos dizer                 que quando há mal entendidos, desentendimentos, desavenças, brigas e disputas, é porque a capacidade de comunicação das pessoas falhou miseravelmente.
Existem muitas formas de falhar na comunicação, vou dar o exemplo das duas formas mais usadas:
A primeira é fazer monólogos, que é quando a pessoa acredita que irá dizer um monte de coisas que está pensando a uma outra pessoa, e isso será suficiente para que ela obtenha o resultado que espera. Acontece que ninguém é um receptáculo passivo, as pessoas tem seus próprios pensamentos e sentimentos, e a forma como irá receber o que lhe foi dito pode variar imensamente. Um exemplo clássico disso, é a figura do professor dando uma bronca em uma turma, fazendo um monólogo, pois só ele fala. Uma minoria dos alunos irá se sentir mal com aquilo, envergonhados talvez, outros podem sentir como se a bronca fosse dirigida exclusivamente à eles e de forma injusta pois não participaram daquela bagunça, outros talvez nem entendam a reação do professor, outros podem achar que ele está exagerando, e por aí vai um monte de opções mostrando que infelizmente o professor não conseguiu atingir seu objetivo através do monólogo. Casais, pais, filhos, colegas, chefes e colegas de trabalho que tentam resolver suas questões através de monólogos, já devem ter descoberto que não funciona, pois quase sempre a outra pessoa entende tudo de uma forma diferente da que você queria. Por isso o diálogo é bem mais eficaz, pois assim é possível ir verificando e corrigindo a comunicação, para ter um efeito final bem melhor. O diálogo muitas vezes traz resultados diferentes do que se pretende no inicio, mas com certeza trará um resultado que será bem melhor para todos envolvidos.
O segundo problema comum de comunicação é a leitura subliminar, ou como alguns gostam de dizer “ler nas entrelinhas”. Essa linguagem de fato existe, mas ela é obvia, como um rosto evidente de tristeza ou alegria, uma postura corporal calma ou agitada, e não tem toda essa invenção de interpretações mirabolantes de que se a pessoa disse uma coisa quis na verdade dizer outra, se a pessoa mexeu no cabelo com tal postura ela quer dizer outra coisa. Esse tipo de interpretação do outro é totalmente falha, pois na verdade essa forma interpretação não corresponde ao comportamento do outro propriamente dito, mas sim às expectativas da pessoa que está interpretando. A “ciência de ler nas entrelinhas!” até existe, mas ainda está pesquisa, não temos nenhum dado suficientemente viável para ser usado com segurança, e mesmo especialistas nesse campo de conhecimento não ousariam interpretar uma pessoa com base em um gesto, um tom de voz ou uma palavra dita no meio de muitas outras. Há pessoas que se apegam à uma palavra que outro disse e a distorcem dando um significado diferente, ou se durante a conversa tomavam um suco e o suco do outro estava azedo e ele fez uma careta, mesmo com o outro falando que o suco estava azedo, a pessoa entende que aquela careta tem muitos outros significados. Os exemplos são infindáveis, mas resumindo, tentar interpretar o outro é um gasto de energia absurdo e inútil, precisamos nos apegar às palavras e aos fatos, sem interpretar. Por isso, ao invés de buscar interpretar o que uma pessoa está querendo dizer ou esconder de você, simplesmente pergunte à ela, usem as palavras e se esbaldem com a riqueza de vocabulário do português em uma conversa, e não na imaginação. Lembrem-se que apesar do ditado: pingo não é letra!
Uma comunicação de qualidade exige que aja um emissor (pessoa que envia a mensagem), um veículo (a fala, a escrita, etc.) e um receptor (a pessoa que recebe a mensagem). Além disso, é importante que o veículo seja de conhecimento de ambos, pois não adianta mandar uma mensagem em português para uma pessoa da Noruega que não conhece o idioma português, pois a pessoa não entenderá a mensagem,  e portanto não haverá comunicação. Pode-se dizer o mesmo a respeito das palavras substitutas: colóquios, palavrões, gírias e expressões culturais. Essas palavras substitutas só fazem sentido e se encaixam na comunicação quando as duas partes compreendem.  Muito além de apenas enviar uma mensagem, é preciso saber que a outra pessoa recebeu, e como recebeu essa mensagem, para que a comunicação seja eficiente, é preciso que haja a troca, e assim as duas pessoas  trocam de papéis, e ambas são receptores e emissores... Isso ficou a uma aula chata de comunicação né... Mas tudo isso se torna importante para explicar uma das melhores funções da comunicação: o DIÁLOGO.

 Para dialogar é preciso estar atento, e querer não apenas falar, mas também ouvir, ser emissor e receptor, estar aberto a troca de compreensão. O resultado do diálogo é a compreensão mútua e não a imposição de um pensamento unilateral, por isso é importante estar aberto a ceder também. Parece uma má ideia, mas o resultado do diálogo sempre irá trazer satisfação a todas as partes da comunicação, e não haverá ganhadores e perdedores, pois todos ganham! As pessoas cedem naquilo que podem ceder e conquistam aquilo que realmente importa, tudo isso sem estragar o relacionamento e mantendo aberta a comunicação, que fortalece o relacionamento.

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