Vamos começar com aquela frase que já escrevi muitas vezes:
“Somos seres humanos, portanto somos seres sociais em nossa constituição”.
Nossa humanidade está condicionada ao relacionamento social, pois é através das
trocas que realizamos com as outras pessoas que construímos nossos conceitos
sobre o mundo, as pessoas, os grupos e sobre nós mesmos. Percebe o quanto o
relacionamento que estabelecemos com as pessoas é importante?
Agora vamos à comunicação, que é o veículo formador das
relações. A qualidade da comunicação interfere de forma direta na qualidade dos
nossos relacionamentos, na forma como vemos as pessoas, o mundo e a nós mesmos.
Podemos perceber claramente isso em pessoas que tem uma qualidade notória, que
algumas percebem e ao elogiar percebem que a pessoa não acredita que seja
verdade. As falhas na comunicação podem ocorrer em decorrência de um transtorno
mental, como por exemplo a depressão, que distorce o pensamento de forma
negativa, mas também podem ser construídas por aprendizados errôneos como o
propagado pelo ditado que diz que pingo é letra.
Podemos dizer que
quando há mal entendidos, desentendimentos, desavenças, brigas e disputas, é
porque a capacidade de comunicação das pessoas falhou miseravelmente.
Existem muitas formas de falhar na comunicação, vou dar o
exemplo das duas formas mais usadas:
A primeira é fazer monólogos, que é quando a pessoa acredita
que irá dizer um monte de coisas que está pensando a uma outra pessoa, e isso
será suficiente para que ela obtenha o resultado que espera. Acontece que ninguém
é um receptáculo passivo, as pessoas tem seus próprios pensamentos e
sentimentos, e a forma como irá receber o que lhe foi dito pode variar imensamente.
Um exemplo clássico disso, é a figura do professor dando uma bronca em uma
turma, fazendo um monólogo, pois só ele fala. Uma minoria dos alunos irá se
sentir mal com aquilo, envergonhados talvez, outros podem sentir como se a
bronca fosse dirigida exclusivamente à eles e de forma injusta pois não
participaram daquela bagunça, outros talvez nem entendam a reação do professor,
outros podem achar que ele está exagerando, e por aí vai um monte de opções
mostrando que infelizmente o professor não conseguiu atingir seu objetivo através
do monólogo. Casais, pais, filhos, colegas, chefes e colegas de trabalho que
tentam resolver suas questões através de monólogos, já devem ter descoberto que
não funciona, pois quase sempre a outra pessoa entende tudo de uma forma
diferente da que você queria. Por isso o diálogo é bem mais eficaz, pois assim é
possível ir verificando e corrigindo a comunicação, para ter um efeito final
bem melhor. O diálogo muitas vezes traz resultados diferentes do que se pretende
no inicio, mas com certeza trará um resultado que será bem melhor para todos
envolvidos.
O segundo problema comum de comunicação é a leitura
subliminar, ou como alguns gostam de dizer “ler nas entrelinhas”. Essa
linguagem de fato existe, mas ela é obvia, como um rosto evidente de tristeza
ou alegria, uma postura corporal calma ou agitada, e não tem toda essa invenção
de interpretações mirabolantes de que se a pessoa disse uma coisa quis na
verdade dizer outra, se a pessoa mexeu no cabelo com tal postura ela quer dizer
outra coisa. Esse tipo de interpretação do outro é totalmente falha, pois na
verdade essa forma interpretação não corresponde ao comportamento do outro
propriamente dito, mas sim às expectativas da pessoa que está interpretando. A “ciência
de ler nas entrelinhas!” até existe, mas ainda está pesquisa, não temos nenhum
dado suficientemente viável para ser usado com segurança, e mesmo especialistas
nesse campo de conhecimento não ousariam interpretar uma pessoa com base em um
gesto, um tom de voz ou uma palavra dita no meio de muitas outras. Há pessoas
que se apegam à uma palavra que outro disse e a distorcem dando um significado
diferente, ou se durante a conversa tomavam um suco e o suco do outro estava
azedo e ele fez uma careta, mesmo com o outro falando que o suco estava azedo,
a pessoa entende que aquela careta tem muitos outros significados. Os exemplos
são infindáveis, mas resumindo, tentar interpretar o outro é um gasto de
energia absurdo e inútil, precisamos nos apegar às palavras e aos fatos, sem
interpretar. Por isso, ao invés de buscar interpretar o que uma pessoa está
querendo dizer ou esconder de você, simplesmente pergunte à ela, usem as
palavras e se esbaldem com a riqueza de vocabulário do português em uma
conversa, e não na imaginação. Lembrem-se que apesar do ditado: pingo não é
letra!
Uma comunicação de qualidade exige que aja um emissor
(pessoa que envia a mensagem), um veículo (a fala, a escrita, etc.) e um
receptor (a pessoa que recebe a mensagem). Além disso, é importante que o
veículo seja de conhecimento de ambos, pois não adianta mandar uma mensagem em
português para uma pessoa da Noruega que não conhece o idioma português, pois a
pessoa não entenderá a mensagem, e portanto
não haverá comunicação. Pode-se dizer o mesmo a respeito das palavras
substitutas: colóquios, palavrões, gírias e expressões culturais. Essas
palavras substitutas só fazem sentido e se encaixam na comunicação quando as
duas partes compreendem. Muito além de
apenas enviar uma mensagem, é preciso saber que a outra pessoa recebeu, e como
recebeu essa mensagem, para que a comunicação seja eficiente, é preciso que
haja a troca, e assim as duas pessoas trocam de papéis, e ambas são receptores e emissores...
Isso ficou a uma aula chata de comunicação né... Mas tudo isso se torna
importante para explicar uma das melhores funções da comunicação: o DIÁLOGO.
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