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7 de jul. de 2010

Depressão na Infância e Adolescência



Por que cada vez tem crescido mais o número de crianças e adolescentes com sintomas de depressão? Sempre existiu esse sintoma de depressão nessa faixa e antes não era diagnosticado ou é devido o estilo de vida atual? E como diagnosticar já que para as crianças pode parecer algum tipo de birra ou timidez e nos adolescentes os pais acreditam que possa ser transição de idade. E quanto a casos mais graves onde muitos tentam suicídio? Como detectar antes que isso aconteça?
A depressão é um transtorno do humor grave e observamos que tem se tornado cada vez mais freqüente entre as pessoas nos dias de hoje, atingindo inclusive crianças e adolescentes. Os preconceitos e a desinformação sobre esse transtorno faz com que as pessoas demorem muito a buscar ajuda profissional, o que pode acarretar no desenvolvimento de co-morbidades mais graves, tornando o tratamento mais intenso e demorado, além de prejudicar também o desenvolvimento psicossocial quando em jovens.
Para entender um transtorno do humor é necessário entender a capacidade humana de reagir aos eventos vivenciados. A todo o momento temos reações que podem ser físicas (calor, frio, dor, etc.) e psíquicas (tristeza, alegria, ansiedade, etc.), normalmente ambas ocorrem simultaneamente, essas reações são adaptativas e fundamentais à sobrevivência humana. Quando o humor é normal, a capacidade de interpretar e reagir adequadamente aos estímulos ambientais está preservada. Assim a pessoa é capaz de compreender se o ambiente lhe é favorável ou adverso, planejando suas estratégias de resposta. Nos transtornos do humor, essa capacidade está comprometida e a pessoa interpreta o ambiente de forma distorcida (no caso da depressão de forma extremamente pessimista).
Não podemos confundir depressão com tristeza. É muito comum ouvirmos uma pessoa que está triste dizer que está se sentindo “deprimida”. A tristeza é um sentimento humano normal, uma forma de reagir à frustração, decepção, perda e fracasso. A tristeza normal não atrapalha a capacidade de uma pessoa em raciocinar, desempenhar suas atividades normais ou de reagir favoravelmente a uma notícia boa. Normalmente a tristeza diminui com o tempo. Ficamos tristes quando perdemos alguém que amamos, quando perdemos um emprego que gostávamos, quando estamos brigados com pessoas que gostamos... Mas essa tristeza é normalmente superada.
A depressão não deveria ser confundida com a tristeza como normalmente se faz. Depressão possui sintomas físicos e psíquicos bem claros e intensos, que ocorrem sem um fator ambiental desencadeante, ou de forma desproporcional e anormalmente duradoura a um evento estressor (um conjunto de reações físicas e emocionais negativas e persistentes sem motivo aparente). Além disso, nem sempre a pessoa com depressão percebe-se como estando triste. Os sintomas que envolvem a depressão são variados, cada pessoa apresenta um conjunto diferente de sintomas e a tristeza é apenas um sintoma entre tantos outros que podem ocorrer. Outros sintomas possíveis são: perda da capacidade de sentir prazer e se divertir com as coisas que normalmente a pessoa gostava de fazer, perda da disposição (a pessoa sente-se cansada e sem ânimo para nada na maior parte do tempo), o desejo por isolar-se ou evitar a companhia das pessoas, o humor irritado, o pessimismo constante bem como a baixa auto-estima (visão negativa de si mesmo, sentindo-se não merecedor do amor e da atenção das pessoas), a alteração do apetite, distúrbios do sono, dificuldades de concentração entre outros sintomas possíveis. Caso a pessoa apresente pelo menos quatro desses sintomas por um período superior a duas semanas, deve procurar a ajuda de um especialista para realizar um diagnóstico adequado. Já a tristeza tem duração limitada e melhora com o tempo, é facilmente compreensível, por ocorrer em resposta a uma situação claramente identificada. Um episódio de depressão pode durar meses, anos ou até a vida inteira, por vezes atinge pessoas sem problemas, em alguns casos até em situação invejável.
Muitos casos de depressão grave entre jovens adultos são o resultado de uma depressão ignorada durante a infância, até mesmo porque os pais não imaginam que seus filhos podem estar deprimidos, normalmente atribuem o comportamento dos filhos à timidez, fase de idade, etc. Parte disso deve-se à cultura de que se os filhos estão infelizes a culpa é dos pais, e quem quer declarar que faz seus filhos infelizes? Também se imagina que a infância é um período doce e maravilhoso, sem problemas e sem qualquer sofrimento, que, portanto as crianças são imunes a certas doenças (principalmente as psiquiátricas). Mas a realidade não é bem essa, não existem “culpados” e muito menos as crianças são naturalmente imunes às doenças psiquiátricas.
As transformações recentes de nossa sociedade e cultura tem sido propiciadoras ao desenvolvimento de diversas doenças psíquicas que antigamente existiam sim, mas que hoje estão tomando proporções epidêmicas bem maiores devido aos estilos de vida e relacionamentos interpessoais que vivenciamos. Há algumas dezenas de anos atrás as famílias sentiam-se mais responsáveis pelos seus membros, dedicavam-se mais uns aos outros, tinham maior referência e respeito às figuras familiares e de autoridade, além disso, conviviam mais tempo entre si e com isso podiam conversar mais, trocarem melhor seus sentimentos e perceberem-se mais amparados. Não só os relacionamentos familiares, mas os relacionamentos sociais também. A rede de contatos sociais ia muito além de contatos de trabalho e colegas de escola. Sem a TV e o computador, as pessoas passavam o tempo interagindo com outras pessoas de carne e osso, tendo reações e estímulos ambientais, bem como feedback de suas atitudes, as pessoas assim desenvolviam mais habilidades sociais e recebiam maior troca afetiva na convivência direta com outras pessoas.
O ser humano é por essência um ser social, necessita estar em sociedade para constituir-se como humano. Trocas afetivas como olhares, apertos de mãos, abraços, o som de uma palavra amiga, ou mesmo reprovadora, formam as percepções e planejam as reações adequadas. E como vivemos hoje? As crianças não tem mais convivência direta com os pais, elas são entretidas pela TV para que os pais cansados do dia de trabalho possam descansar e ver seus emails, muitas vezes mesmo as refeições são realizadas em frente à TV. Os adultos, além de verem seus emails também sentem a necessidade de ver seu telejornal, sua novela ou seriado na TV como forma de relaxar. Conversar no momento de relaxar é algo evitado ao máximo. Os meios de comunicação que surgiram para facilitar e aproximar o contato com as pessoas, de certa forma são muito úteis, pois facilitam e agilizam a comunicação, por outro lado perde-se o contato caloroso entre humanos para um contato frio e sem emoções de um aparelho eletrônico. Muitas famílias hoje resolvem seus conflitos por telefone ou email, e aos poucos vão perdendo a capacidade de relacionar-se com o outro, de expor suas dificuldades e sentimentos pessoais, dessa forma o aprendizado sobre como lidar com os sucessos e fracassos vai ficando superficial, vemos cada vez mais que as pessoas não conseguem lidar com as decepções e fracassos de maneira adequada. A responsabilidade disso de forma alguma é da tecnologia em comunicação, mas sim da mentalidade desenvolvida por uma cultura que agregamos cada dia mais: a individualidade. As pessoas deixam de perceber o problema do outro e buscar entender, se possível ajudar, passam a ver apenas as próprias necessidades e desejos. Nossa sociedade tem formado pessoas individualistas, que simplesmente estão perdendo a capacidade de desenvolver a aptidão de perceber o outro (os sentimentos, os desejos e as necessidades dos outros). Isso não significa que as mudanças culturais e sociais são negativas, com certeza conquistamos muitas coisas importantes como a consciência da necessidade de inclusão social, o respeito e a tolerância das diferenças, mas é fato que a capacidade de relacionamento interpessoal foi afetada. Entre adultos essas mudanças já dificultam os relacionamentos (podemos observar a quantidade de casamentos e divórcios realizados por um desejo momentâneo, não existe mais “até que a morte os separe”, mas sim o “que seja infinito enquanto dure”), ninguém mais quer ficar infeliz pelos problemas do outro e ajudá-lo a resolver para partilhar a felicidade também, as pessoas querem a felicidade pronta, como a comida congelada no mercado que é só colocar no microondas e já está pronta. Agora imaginemos isso no relacionamento dos adultos com as crianças...
Crianças precisam desenvolver tudo; sua personalidade, seu sistema de valores, sua percepção da realidade, suas habilidades sociais, suas crenças, etc. Onde é que as crianças desenvolvem isso? Na convivência familiar. Entretanto, a convivência familiar está cada vez mais reduzida, os pais não querem saber dos problemas dos filhos com amiguinhos ou na escola (que a escola resolva isso, é o que normalmente se pensa), os filhos não tem mais uma rede de amizades na vizinhança, pois a rua não é mais um lugar seguro, sobram os clubes e cursos para aqueles poucos que podem pagar por isso, ou a TV, o vídeo game e o computador que oferecem padrões no mínimo duvidosos ao aprendizado infantil. No final as crianças passam seu tempo sem supervisão, sem trocas afetivas adequadas, relacionando-se socialmente da maneira como aprendem ao que estão expostas, reproduzindo o que observam. Com isso os padrões afetivos aprendidos são frios, distantes (pois não devemos expor nossas individualidades à estranhos ou a pessoas de fora da família) e muitas vezes competitivos, agressivos, superficiais, etc. Somente quando esses padrões começam a apresentar problemas mais graves como a queda brusca do rendimento escolar, o comportamento social e familiar arredio da criança e do adolescente, o uso e abuso de drogas, o envolvimento em brigas corporais constantes, etc., é que os pais percebem que precisam de ajuda. Um dos problemas atuais que tem afetado o desenvolvimento e o comportamento de crianças e adolescentes (e que está sendo apresentado nesse artigo) é a depressão.
Conforme o Psiquiatra Infantil, Dr. Gustavo Teixeira, “não existem dados conclusivos a respeito das causas da depressão, entretanto acredita-se que existam tendências genéticas, associadas a fatores ambientais e bioquímicos que estariam relacionados ao desenvolvimento do transtorno. Dados epidemiológicos revelam que quando há história de depressão na família, há maior risco para o transtorno, sendo que filhos de pais com depressão apresentam três vezes mais chances de desenvolver o transtorno durante a vida quando comparados a filhos de pais não deprimidos. Alterações de substâncias químicas do cérebro chamadas neurotransmissores também estariam presentes em pacientes com depressão. Outro fator importante para o desencademento de episódios depressivos seria o grau de estruturação familiar e o ambiente doméstico em que este jovem está inserido. Jovens vivendo em lares hostis, desestruturados, com interações familiares estressantes, convivendo com pais agressivos e/ou negligentes possuem maior chance de desencadear episódios depressivos, assim como crianças órfãs ou com pais separados. Inversamente proporcional a isto, é fato que interações familiares positivas podem apresentar uma função protetora para episódios depressivos na infância e na adolescência.” (Transtornos Psiquiátricos na Infância e Adolescência, Ed. Rubio, 2005)
Crianças e adolescentes com depressão apresentam-se freqüentemente com tristeza, falta de motivação e relatam sentimentos de solidão, contudo é comumente observado um humor irritável ou instável. Esses jovens podem apresentar mudanças súbitas de comportamento com explosões descontroladas de raiva, podendo envolver-se em brigas corporais no ambiente escolar ou durante a prática desportiva. Também apresentam dificuldade em divertir-se, queixando-se de estar entediada ou “sem nada para fazer” e pode rejeitar o envolvimento com outras crianças, dando preferência por atividades solitárias. Dentro da sala de aula ou no recreio escolar, pode ser sinal de alerta a professores a mudança comportamental de uma criança anteriormente bem socializada e entrosada com o grupo e que passa a isolar-se. A queda do desempenho acadêmico quase sempre acompanha o transtorno, porque crianças e adolescentes com depressão não conseguem concentrar-se em sala de aula, há perda de interesse pelas atividades, falta de motivação e pensamento lentificado, e o resultado disso tudo é observado no boletim escolar. Também são freqüentes as queixas físicas como cansaço, falta de energia, dores de cabeça ou dores de barriga, insônia, preocupações excessivas com trivialidades, sentimentos de culpa, baixa auto-estima, choro excessivo, fala em ritmo devagar e de forma monótona e monossilábica também ocorre em grande número de casos. Não é necessário, que a criança ou o adolescente, apresente todos esses sintomas de uma vez para considerar que tenha depressão. A presença de pelo menos quatro desses sintomas por um período superior a duas semanas já é o suficiente para que os pais busquem ajuda profissional para diagnóstico e tratamento.
Sintomas que mostram ser mais grave a situação envolvem pensamentos recorrentes de morte, idéias e planejamento de suicídio, que podem estar presentes em todas as idades. Já os atos suicidas tendem a ocorrer com maior freqüência entre adolescentes. Os pensamentos sobre a morte nem sempre estão explícitos como da própria morte, muitas vezes é expresso apenas pelo interesse freqüente com o tema da morte. Os comportamentos de risco durante a adolescência são comuns, entretanto estes podem se acentuar durante episódios depressivos levando a prática sexual promíscua e sem proteção, o abuso de álcool ou outras drogas, o envolvimento em brigas corporais entre outros comportamentos de risco como andar pelas ruas sem observar a proximidade de carros, tomar remédios em excesso, etc. Mais um dado importante é o fato de que mais 90% dos adolescentes que cometem suicídio apresentaram problemas psiquiátricos anteriormente, sendo a depressão o transtorno mais importante e estando presente em até metade desses casos. Junto à depressão também podem surgir outros transtornos psiquiátricos, essa associação ocorre entre 30 a 60% dos casos, sendo mais com transtornos ansiosos, como a ansiedade de separação, a distimia, o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade, os transtornos disruptivos (transtorno de conduta e transtorno desafiador opositivo) e o abuso de álcool ou outras drogas.
O transtorno depressivo produz dificuldades sociais e acadêmicas que podem comprometer o desenvolvimento e funcionamento social da criança ou adolescente e de suas relações interpessoais, tendendo a recorrer na idade adulta, quando não tratado de forma correta. Provavelmente muitos episódios depressivos observados em pacientes adultos são, na verdade, episódios recorrentes de um transtorno depressivo não identificado na infância. Por isso é importante que os pais, educadores e familiares estejam atentos ao comportamento de crianças e adolescentes, a fim de perceberem essas mudanças e buscarem ajuda profissional para tratamento e orientação o quanto antes possível, para que se preserve o desenvolvimento e a saúde desses jovens. O tratamento da depressão na infância e adolescência envolve o acompanhamento médico de um psiquiatra ou neurologista infantil que poderá fazer a associação de medicamentos antidepressivos adequados, aliado ao acompanhamento de um psicólogo envolvendo psicoterapia para a criança e orientação para pais e professores.
Na prevenção de transtornos psiquiátricos, um papel importante é o dos pais. Com a vida cada vez mais agitada e com menos tempo para dedicarem-se à família, muitos pais sentem-se perdidos, sem saber o que precisam fazer de fato para prover o cuidado adequado aos filhos. Com o tempo reduzido para a convivência familiar, fica muito difícil conhecerem bem o comportamento, a personalidade e o temperamento dos filhos, especialmente por serem tão jovens e em fase de formação de suas características individuais ainda. Entretanto essa observação é extremamente necessária, e pode ser realizada forma satisfatória com pequenas medidas como o melhor planejamento do tempo. Já é bem conhecido o jargão de que não é preciso dispor de muito tempo, mas que se disponha de tempo com qualidade. Para que as crianças e adolescentes recebam a atenção necessária dos pais, afim de que esses possam conhecer melhor o comportamento dos filhos e reconhecer alterações negativas, é preciso que os pais consigam planejar melhor a forma como usam o seu tempo. Recorrer a medidas que deixarão as crianças “quietas” para não se aborrecer com elas não é o mais adequado apesar de tentador.
Nos dias de hoje é muito raro a família em que a mãe ou o pai podem ficar em casa para cuidar da prole, normalmente ambos trabalham fora. Então como dedicar tempo aos filhos? Não é preciso muito tempo para oferecer às crianças o cuidado parental de que elas necessitam, mas sim oferecer qualidade de convivência no pouco tempo que dispõem juntos. Com certeza é muito difícil não checar emails e não ligar a TV à noite, é preciso muita força de vontade e persistência para conseguir manter esse tipo de convivência em família. Mas é justamente isso que é necessário. Os pais precisam dedicar seu tempo livre para cantar canções junto com os filhos, brincarem juntos (a criança aprende e desenvolve através das brincadeiras), conversarem sobre a vida uns dos outros, gastarem seu tempo com os filhos adolescentes ajudando nas tarefas escolares (não fazer por eles, mas ajudar), conversarem sobre as amizades e relacionamentos, sobre planos, planejar juntos o final de semana, envolver crianças e adolescentes nas tarefas domésticas (como arrumar a própria bagunça, tirar para fora o lixo), ensinar padrões de comportamento, ensinar a ter respeito e consideração pelos outros, etc. Todas estas coisas a TV e a internet não podem fazer por nós, e é nessa convivência que conseguimos trocar emoções, fazendo com que as crianças e adolescentes se sintam aceitos e amados bem como nos sentimos aceitos e amados por eles também, dessa forma conseguimos perceber as alterações nos comportamentos uns dos outros podendo oferecer suporte e mesmo buscar ajuda profissional quando não conseguimos resolver sozinhos.
Como perceber sintomas de Depressão na escola:-queda do rendimento escolar
-irritabilidade
-impulsividade
-brigas
-isolamento em sala de aula e no recreio
-tristeza
-falta de motivação
-choro fácil
-fala em ritmo devagar, monótona
-queixas físicas (dores de cabeça, dores musculares)
-pensamentos recorrentes de morte
Compreender, acolher e ajudar são ações essenciais no cuidado com as crianças.