30 de jan. de 2013

Saudade



Trata-se de uma palavra que existe somente nas línguas galega e portuguesa, que descreve a mistura de sentimentos relacionados à falta, perda, amor, tristeza e nostalgia. Essa expressão surgiu há séculos atrás, no período das grandes navegações, entre as famílias de embarcados, para expressar os sentimentos que tinham relacionados aos entes ausentes.
A saudade é um sentimento natural, assim como a alegria e a tristeza. Pesquisadores sugerem que alguns animais (normalmente mamíferos) sejam capazes de experiênciar esse sentimento também. Como todo sentimento natural, é um sentimento saudável e importante na manutenção da saúde mental desde que sempre esteja equilibrado, permitindo que possamos experiênciar outros sentimentos também, conforme o momento e as circunstâncias.
Podemos experimentar saudade de diversos modos e intensidades. Pode-se sentir saudades de objetos perdidos, animais de estimação, comidas, filmes, perfumes, pessoas amigas, pessoas amadas, lugares onde estivemos, etc... E também existe a saudade que fica após termos perdido um ente querido devido falecimento, e este tipo de saudade é muito diferente, por envolver um processo de luto.
Quando temos saudade de algo que podemos recuperar, esse sentimento é nostálgico, embora possa ser saciado "matando a saudade", o que pode trazer sentimentos e emoções muito agradáveis. Entretanto a saudade que se experimenta devido um processo de luto, essa não poderá ser saciada, e por isso é muito importante conseguir desenvolver um processo de luto saudável, concluindo os ciclos necessários para a resolução desses sentimentos. Esses ciclos normalmente envolvem negação, raiva/revolta e por fim aceitação/superação. É importante que a pessoa possa compartilhar seus sentimentos e pensamentos, ser acolhida em sua dor. Normalmente desabafar junto aos outros enlutados é muito positivo, já que a dor compartilhada é dor diminuída. É confortante saber que não estamos sozinhos com a nossa dor, que há outras pessoas que estão passando pela mesma dor e tristeza que nós, e que podem nos compreender. Nessa troca ainda há mais benefícios, pois em grupo pode-se perceber no outro aquilo que não conseguimos perceber em nós mesmos, que mesmo com o sentimento de ausência, a dor e a tristeza, a vida continua e todos somos capazes e superar e seguir adiante. Fazemos isso naturalmente e não os damos conta, pensamos estar sufocados pela dor, mas ao vermos os outros superando, isso nos dá forças e ânimo.
Nas situações mais extremas como o enlutamento, os rituais religiosos são muito importantes para os indivíduos conseguirem se despedir do ente querido, obter conforto na ausência dos amados, e prosseguir na vida. O que em alguns momentos da vida pode parecer ilógico, na hora do luto é o que pode conseguir trazer algum significado à vida. O ato do velório, um momento onde os vivos se reúnem para despedir do ente falecido, e ali choram, se entristecem, lembram da vida daquela pessoa e dos fatos que as marcaram, esse é um processo de despedida, onde as pessoas vão elaborando suas emoções para começar a lidar com essa ausência definitiva. A seguir vem o enterro, que também possui seus significados, muito além de uma medida higiênica adotada há séculos quando da formação das primeiras cidades, o ato de enterrar finaliza a despedida, o adeus final. Momento muito delicado, triste, decisivo para as pessoas que se despedem, e nesse momento os atos religiosos mais uma vez são os capazes de trazer algum conforto e sentido à vida, na medida em que trazem significado à terra "da terra vieste e à terra retornarás", e na crença do pós vida, onde poderemos reencontrar um dia as pessoas amadas.
Esses processos devem ser respeitados, pois irão determinar uma recuperação mais rápida quando tudo acabar.
Entretanto, saudades que prendem a pessoa a uma vida que não existe mais devem ser tratados como processos patogênicos. Uma pessoa que não consegue superar o falecimento de um ente e vive em reclusão, continuamente triste, sem querer voltar a viver as alegrias do dia a dia, necessita de cuidados psicoterapêuticos, e muitas vezes acompanhamento médico também. Ou então a pessoa apegada à vida que teve num passado distante, ou em um local distante, e simplesmente não conseguem se adaptar e viver felizes e satisfeitas com a vida presente. Essas pessoas tem muita resistência a mudanças, e muita dificuldade de se adaptar. A necessidade nesses casos é de acompanhamento psicológico e análise da necessidade de um acompanhamento médico, caso haja um transtorno do humor ou da personalidade instalado.
A saudade é saudável enquanto não impede que a pessoa experiêncie os demais sentimentos e eventos que a vida tem a oferecer. Quando a saudade começa a dominar a vida de uma pessoa, é hora de buscar um atendimento psicológico.
Bons pensamentos e bons sentimentos!



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