Nos registros históricos o ciúme surge
com a formação patriarcal da sociedade, como uma necessidade masculina por
garantir a fidedignidade de sua descendência. Nesse contexto, o ciúme foi a
justificativa para a violência extrema que as mulheres sofreram por séculos, ao
passo que à elas esse sentimento era proibido.
Apenas nos anos 60, com a
revolução sexual e a possibilidade da mulher obter controle sobre sua
fertilidade, bem como a quebra de muitos tabus sobre a sexualidade, a mulher
começou a expressar esse sentimento da mesma forma que o homem.
Contudo, o ciúmes é um sentimento
ligado à crenças a respeito de amor, auto preservação, e baixa estima, que pode despertar emoções
como raiva e tristeza. Acredito que já existia muito antes dos registros
históricos, e que mesmo sendo proibido às mulheres no passado, elas também o
sentiam, encontrando formas alternativas de expressá-lo.
Segundo Regina Navarro Lins (2007),
as crenças e a importância do ciúme no repertório emocional de uma pessoa são construídas
desde primeira infância, a partir de suas relações com a mãe e o pai. Para
Lins, o adulto vive o amor de forma semelhante à sua relação amorosa com a mãe
quando era uma criança pequena, pois bebê necessita de paz, aconchego e
proteção, que obtém através do contato físico com outra pessoa. Quando está
sozinho sente-se abandonado e chora na busca pelo colo e acalento; e essa é a
primeira manifestação de amor. À medida que cresce a criança torna-se mais
independente, entretanto esse amor ainda é o seu referencial de vida e sente
medo de perdê-lo, por isso a criança pode mostrar-se “controladora, possessiva
e ciumenta, desejando a mãe só para si”. Por isso associamos o medo de não
sermos amados à perda de tudo, inclusive da vida, pois esse risco que é real na
infância pode ser alimentado na idade adulta em uma família onde a dependência
emocional dos pais é mantida. Nesses casos, quando surge um relacionamento
amoroso a dependência é transferida para a outra pessoa, com quem irá tentar
satisfazer suas necessidades infantis.
Se a pessoa só consegue ficar bem
ao lado da pessoa amada, e amor é a solução de todos os problemas, a pessoa
amada torna-se extremamente importante à sobrevivência. Assim surge o medo de
perdê-la, desenvolvendo comportamentos de controle, possessividade e ciúmes.
Apesar de socialmente tolerado na maior parte dos casos, isso faz com que as
pessoas permaneçam juntas mais por necessidade do que pelo prazer na companhia
um do outro, gerando expectativas infantis, como querer que o outro adivinhe o
que sente ou deseja e esteja sempre pronto a fazê-lo feliz, assim como um bebê
que depende que sua mãe adivinhe suas necessidades estando sempre atenta de
forma exclusiva à ele. Tenta-se controlar a pessoa amada acreditando que assim
diminuirá as chances de abandono, chegando-se a exigir que a outra pessoa
submeta-se a prestar satisfações sobre seu dia ou até mesmo aceitar a
vigilância constante. Encontramos ainda pessoas que inflam a própria autoestima
quando seus pares demonstram ciúmes, e alimentam esse comportamento (podendo
até instigar).
A questão do ciúme também está
ligada à imagem que a pessoa tem de si mesma. Pessoas com baixa autoestima
tendem a ser mais inseguras. “Quem é amado sente-se valorizado, com mais
qualidades e menos desamparado. Portanto quanto mais intenso o sentimento de
inferioridade, maior será a insegurança e mais forte o ciúme. O caminho mais
fácil é tentar restringir ao máximo a liberdade do outro.” Pessoas que parecem
ser autossuficientes socialmente, podem revelar-se extremamente inseguros e
dependentes no contexto amoroso.
Pessoas com boa autoestima, que
se consideram atraentes e interessantes não pensam que podem ser trocadas com
facilidade, e percebem que se a relação acabar irão sofrer, mas também sabem
que serão capazes de superar.
Em alguns casos a manifestação de
ciúmes pode ser tão exacerbada, ou mesmo desviar da realidade, o que na
psicologia e psiquiatria conhecemos como ciúmes patológico. Balliero (2008)
relaciona o ciúmes patológico a diferentes transtornos mentais, como o Transtorno
Obsessivo Compulsivo, Transtornos de Personalidade, Transtorno Delirante,
Psicose Orgânica, Psicose Alcoólica, e Esquizofrenias. Entretanto a presença do
ciúmes patológico não está condicionado à existência de um transtorno mental,
podendo ser considerado de forma independente, desde que a presença do
comportamento relacionado à ciúmes esteja interferindo na qualidade de vida e
de relacionamento de uma pessoa. Nesses
casos a pessoa precisa de tratamento psicológico, podendo precisar de
associação medicamentosa dependendo da gravidade do caso.
Existem formas da pessoa manejar
o próprio ciúmes, de forma a relacionar-se melhor com seus pares, a seguir vão
algumas dicas:
Entenda a vida social de seu parceiro(a) e aceite que vocês precisam
interagir com outras pessoas. Procure compreender que seu par não pode
controlar o comportamento dos outros, e que é muito diferente ser educado de
ser permissivo, uma pessoa não pode ser condenada por ser educada.
Cuide de sua auto estima, valorize-se, busque realizar atividades
que te façam sentir bem consigo mesmo, como cuidar de sua saúde, aparência e
profissão. Muitas vezes o ciúmes é uma defesa do próprio ego, para não cair
nessa armadilha trate de sentir-se interessante cuidando de si mesmo.
Esqueça a ideia de posse, manter uma pessoa ao seu lado é uma
CONQUISTA, e não uma ameaça ao outro. Se uma pessoa está com você é porque quer
assim. Lembre que ninguém é obrigado a estar com ninguém e as pessoas ficam
juntas quando a companhia é agradável. Tentar obrigar o outro a estar com você
já acaba com todo o prazer.
Racionalize, muitas vezes o ciúmes cria fantasias na cabeça da
pessoa. Busque comparar seus pensamentos com a realidade, e não com outros
pensamentos.
Controle seus impulsos, quando estiver nervoso não é hora de se
expressar, acalme-se primeiro, reflita sobre a situação e só depois converse de
calma, expondo o que te incomodou e como poderia ter sido evitado, estando
aberto a ouvir o que a outra pessoa tem a dizer.
Não alimente o ciúmes e seja flexível, apesar de ser lisonjeador as
vezes ver que seu par sente ciúmes de você, lembre quantos sentimentos
desagradáveis a pessoa irá vivenciar com isso, e seja flexível afim de garantir
que a pessoa consiga sentir-se segura no relacionamento.
Por fim, DIÁLOGO, sempre! Conversar de forma racional e ponderada é
sempre o que fortalece os relacionamentos.
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