30 de ago. de 2016

Conversar de forma eficiente

Vamos começar com aquela frase que já escrevi muitas vezes: “Somos seres humanos, portanto somos seres sociais em nossa constituição”. Nossa humanidade está condicionada ao relacionamento social, pois é através das trocas que realizamos com as outras pessoas que construímos nossos conceitos sobre o mundo, as pessoas, os grupos e sobre nós mesmos. Percebe o quanto o relacionamento que estabelecemos com as pessoas é importante?
Agora vamos à comunicação, que é o veículo formador das relações. A qualidade da comunicação interfere de forma direta na qualidade dos nossos relacionamentos, na forma como vemos as pessoas, o mundo e a nós mesmos. Podemos perceber claramente isso em pessoas que tem uma qualidade notória, que algumas percebem e ao elogiar percebem que a pessoa não acredita que seja verdade. As falhas na comunicação podem ocorrer em decorrência de um transtorno mental, como por exemplo a depressão, que distorce o pensamento de forma negativa, mas também podem ser construídas por aprendizados errôneos como o propagado pelo ditado que diz que pingo é letra.
Podemos dizer                 que quando há mal entendidos, desentendimentos, desavenças, brigas e disputas, é porque a capacidade de comunicação das pessoas falhou miseravelmente.
Existem muitas formas de falhar na comunicação, vou dar o exemplo das duas formas mais usadas:
A primeira é fazer monólogos, que é quando a pessoa acredita que irá dizer um monte de coisas que está pensando a uma outra pessoa, e isso será suficiente para que ela obtenha o resultado que espera. Acontece que ninguém é um receptáculo passivo, as pessoas tem seus próprios pensamentos e sentimentos, e a forma como irá receber o que lhe foi dito pode variar imensamente. Um exemplo clássico disso, é a figura do professor dando uma bronca em uma turma, fazendo um monólogo, pois só ele fala. Uma minoria dos alunos irá se sentir mal com aquilo, envergonhados talvez, outros podem sentir como se a bronca fosse dirigida exclusivamente à eles e de forma injusta pois não participaram daquela bagunça, outros talvez nem entendam a reação do professor, outros podem achar que ele está exagerando, e por aí vai um monte de opções mostrando que infelizmente o professor não conseguiu atingir seu objetivo através do monólogo. Casais, pais, filhos, colegas, chefes e colegas de trabalho que tentam resolver suas questões através de monólogos, já devem ter descoberto que não funciona, pois quase sempre a outra pessoa entende tudo de uma forma diferente da que você queria. Por isso o diálogo é bem mais eficaz, pois assim é possível ir verificando e corrigindo a comunicação, para ter um efeito final bem melhor. O diálogo muitas vezes traz resultados diferentes do que se pretende no inicio, mas com certeza trará um resultado que será bem melhor para todos envolvidos.
O segundo problema comum de comunicação é a leitura subliminar, ou como alguns gostam de dizer “ler nas entrelinhas”. Essa linguagem de fato existe, mas ela é obvia, como um rosto evidente de tristeza ou alegria, uma postura corporal calma ou agitada, e não tem toda essa invenção de interpretações mirabolantes de que se a pessoa disse uma coisa quis na verdade dizer outra, se a pessoa mexeu no cabelo com tal postura ela quer dizer outra coisa. Esse tipo de interpretação do outro é totalmente falha, pois na verdade essa forma interpretação não corresponde ao comportamento do outro propriamente dito, mas sim às expectativas da pessoa que está interpretando. A “ciência de ler nas entrelinhas!” até existe, mas ainda está pesquisa, não temos nenhum dado suficientemente viável para ser usado com segurança, e mesmo especialistas nesse campo de conhecimento não ousariam interpretar uma pessoa com base em um gesto, um tom de voz ou uma palavra dita no meio de muitas outras. Há pessoas que se apegam à uma palavra que outro disse e a distorcem dando um significado diferente, ou se durante a conversa tomavam um suco e o suco do outro estava azedo e ele fez uma careta, mesmo com o outro falando que o suco estava azedo, a pessoa entende que aquela careta tem muitos outros significados. Os exemplos são infindáveis, mas resumindo, tentar interpretar o outro é um gasto de energia absurdo e inútil, precisamos nos apegar às palavras e aos fatos, sem interpretar. Por isso, ao invés de buscar interpretar o que uma pessoa está querendo dizer ou esconder de você, simplesmente pergunte à ela, usem as palavras e se esbaldem com a riqueza de vocabulário do português em uma conversa, e não na imaginação. Lembrem-se que apesar do ditado: pingo não é letra!
Uma comunicação de qualidade exige que aja um emissor (pessoa que envia a mensagem), um veículo (a fala, a escrita, etc.) e um receptor (a pessoa que recebe a mensagem). Além disso, é importante que o veículo seja de conhecimento de ambos, pois não adianta mandar uma mensagem em português para uma pessoa da Noruega que não conhece o idioma português, pois a pessoa não entenderá a mensagem,  e portanto não haverá comunicação. Pode-se dizer o mesmo a respeito das palavras substitutas: colóquios, palavrões, gírias e expressões culturais. Essas palavras substitutas só fazem sentido e se encaixam na comunicação quando as duas partes compreendem.  Muito além de apenas enviar uma mensagem, é preciso saber que a outra pessoa recebeu, e como recebeu essa mensagem, para que a comunicação seja eficiente, é preciso que haja a troca, e assim as duas pessoas  trocam de papéis, e ambas são receptores e emissores... Isso ficou a uma aula chata de comunicação né... Mas tudo isso se torna importante para explicar uma das melhores funções da comunicação: o DIÁLOGO.

 Para dialogar é preciso estar atento, e querer não apenas falar, mas também ouvir, ser emissor e receptor, estar aberto a troca de compreensão. O resultado do diálogo é a compreensão mútua e não a imposição de um pensamento unilateral, por isso é importante estar aberto a ceder também. Parece uma má ideia, mas o resultado do diálogo sempre irá trazer satisfação a todas as partes da comunicação, e não haverá ganhadores e perdedores, pois todos ganham! As pessoas cedem naquilo que podem ceder e conquistam aquilo que realmente importa, tudo isso sem estragar o relacionamento e mantendo aberta a comunicação, que fortalece o relacionamento.

23 de ago. de 2016

Higiene do sono: como dormir bem.

Dormir bem é extremamente importante para nossa saúde e bem estar. Além nos manter descansados e bem dispostos, o sono tem muitas funções reguladoras.  Apenas quando estamos dormindo que o nosso cérebro entra em modo REM, que garante a formação de memórias, solidificando todo o conhecimento obtido ao longo do dia. Existem muitos estudos indicando que dormir pouco (menos que o recomendado) ao longo da vida predispõe a pessoa a desenvolver doenças demenciais (doenças neurodegenerativas). O sono também é o momento em que o corpo produz hormônios importantes para o bom funcionamento do corpo, sendo o mais importante deles o hormônio do crescimento, que interfere diretamente no metabolismo basal. O mais interessante nisso tudo, é que as principais funções do sono só funcionam quando dormimos à noite, ou seja, não adianta compensar dormindo de dia, ou dormir mais no final de semana, é preciso dormir ao menos suficiente todas as noites. Sendo assim a falta de sono adequado além de lhe deixar cansado e mau humorado no dia seguinte, também irá lhe causar dificuldades de atenção, de memória, deixar seu corpo mais lento, e em grande frequência ainda pode lhe causar síndromes metabólicas e demenciais.
Muitas pessoas tem dificuldades importantes de sono, que pode ter surgido das formas mais inesperadas e inusitadas possíveis. Alguns conseguem regular seu sono naturalmente e voltar ao normal em pouco tempo, outros acabam verdadeiros problemas e recorrem ao uso de remédios. O uso de remédios para dormir é muito contra indicado, pois a maioria dos medicamentos para induzir ao sono acabam interferindo negativamente na qualidade do sono, e este passa a não desempenhar todas as suas funções necessárias ao nosso bom funcionamento. Claro que existem casos que a pessoa precisa escolher entre não dormir ou dormir com o medicamento, e nesses casos se recorre ao medicamento até que se consiga restabelecer o sono normal. Entretanto podemos observar que muitas pessoas diante uma fase difícil da vida, em que estão mais preocupadas que o comum, começam a apresentar alguma dificuldade para adormecer e logo recorrem a medicamentos para induzir o sono, tornando-se emocionalmente dependentes desses ao longo de muitos anos de suas vidas.
É muitos importante trabalhar para desenvolver uma boa qualidade de sono, para os que tem dificuldades com o sono, já aviso que não será um caminho rápido, apesar de ser  relativamente fácil. Não adiante aplicar a higiene do sono ao longo de apenas duas ou três semanas e esperar resultados milagrosos. O que a higiene do sono propõe é condicionar seu corpo e sua mente a dormirem de noite, um sono reparador, e o condicionamento, assim como todo aprendizado, leva um tempo para se fixar. Todas as dicas fornecidas aqui são uma forma de generalização, claro que existem nuances e detalhes da realidade de cada pessoa, que precisam ser ajustadas. Vamos à higiene do sono:

NÃO DURMA DURANTE O DIA, QUALQUER COCHILO QUE PASSE DE 30MIN, OU QUE SE ESTENDA APÓS AS 14H IRÁ INTERFERIR MUITO NEGATIVAMENTE NO SEU SONO. O ideal é que a pessoa nem faça o cochilo de 30 min.

PRATIQUE ATIVIDADE FÍSICA, DE PREFERÊNCIA NA PARTE DA MANHÃ, E NUNCA APÓS AS 17H. Atividade física deixa corpo e mente alertas e acelerados. Não é preciso grande quantidade, nem intensidade, uma caminhada suave de 30min já desempenha um maravilhoso efeito sobre o sono das pessoas.

REDUZA O CONSUMO DE AÇUCAR E CAFEÍNA NO COTIDIANO, E NÃO OS CONSUMA APÓS AS 17H. Ou seja, reduza o chocolate, o café, os refrigerantes (sobretudo coca cola e Pepsi), chá preto, alimentos, suplementos e medicamentos que contenham cafeína, bem como todos os doces.

NO JANTAR DÊ PREFERÊNCIA A REFEIÇÕES LEVES. Estômago muito cheio pode atrapalhar o sono, e até causar refluxo.

A PARTIR DAS 20H (CASO QUEIRA DORMIR ÀS 22H) MUDE O AMBIENTE DA SUA CASA:
                -MANTENHA A ILUMINAÇÃO DA CASA BEM ESCURA, USANDO ABAJURES FRACOS OU LUZES INDIRETAS, DE PREFERÊNCIA AMARELADAS. SE EM UM COMODO TIVER UMA TV LIGADA, A LUZ DELA JÁ SERÁ SUFICIENTE. Escurecer a casa é importante para o seu corpo entender que chegou a noite e começar a liberar hormônios como a melatonina, que irão ajudar na indução do sono.

                 -REGULE SUA TV: ABAIXE O SOM (VOL.10) E REDUZA O BRILHO (MODO DE ECONOMIA MÁXIMA). Acredite você será capaz de ver e ouvir todos os detalhes da sua programação assim, enquanto começa a relaxar sua mente e corpo. *O mesmo vale para celulares, tablets e computadores.

                -EVITE AO MÁXIMO ASSISTIR TV OU LER NA CAMA, ESTE MÓVEL FOI FEITO PARA DORMIR, FAÇA SEU CORPO ASSOCIAR ISSO.



***ESTABELEÇA UMA ROTINA DO SONO***

Vou colocar uma sugestão de como fazer, todos os itens inclusos aqui são valiosos na hora de treinar o corpo para dormir. Mude a ordem sugerida caso prefira, mas lembre-se que todos os dias deverá seguir a mesma ordem. Sobretudo lembre-se que o seu caminho é para a cama, então não tenha pressa em fazer nada disso, faça tudo de forma calma e lenta.

*TENHA UM JANTAR LEVE, SEM ENCHER DEMAIS SEU ESTÔMAGO.

*TOME UM BANHO MORNO E RELAXANTE, E TOME UM PEQUENO TEMPO PARA SENTIR A AGUA QUENTE CAINDO SOBRE SUAS COSTAS.

*COLOQUE SUAS ROUPAS DE DORMIR.

*TOME UM CHÁ (CAMOMILA, ERVA DOCE, MELISSA, CIDREIRA, MAÇÃ, ETC., MAS EVITE OS CHÁS TERMOATIVOS E  OS QUE TENHAM CAFEÍNA).

*ESCOVE OS DENTES.

*PERMANEÇA AGINDO DE FORMA CALMA E LENTA, E SÓ VÁ PARA A CAMA QUANDO SENTIR SONO.

*AO DEITAR NA CAMA ACONCHEGUE-SE E CONCENTRE-SE EM RESPIRAR LENTAMENTE E RELAXAR OS MÚSCULOS DO CORPO. A hora de dormir não é a hora de pensar nos compromissos do dia seguinte, nem dos próximos dias, não é hora de pensar na solução de problemas, nem em nada. É apenas hora de ouvir seu corpo, relaxando a respiração e soltando a tensão de todos os seus músculos.

*SE ACORDAR NO MEIO DA NOITE PARA BEBER AGUA OU IR AO BANHEIRO, VÁ NO ESCURO MESMO, FAÇA APENAS SUA NECESSIDADE E VOLTE DIRETO PARA A CAMA, SEM PENSAR EM MAIS NADA.

*CASO PERCA O SONO, NÃO FIQUE ROLANDO NA CAMA, LEVANTE MANTENDO-SE EM AMBIENTE ESCURO (PENUMBRA), E VÁ LER OU VER TV COM POUCA LUZ E SOM MUITO BAIXO, SE PREFERIR TOME UM CHÁ NOVAMENTE.

LEMBRE-SE QUE ISSO É UM CONDICIONAMENTO, LEVA TEMPO, E PORTANTO A PERSISTÊNCIA É O SEGREDO DO SUCESSO.
Também é importante ressaltar que há muitos fatores que podem interferir em seu sono no futuro, como a expectativa por eventos futuros, preocupações, etc. Isso não é motivo para desesperar e começar a pensar que está com problemas de sono novamente, você apenas estará num momento complicado da sua vida e precisará manter sua rotina noturna até que seus padrões de sono voltem ao normal.



16 de ago. de 2016

Compulsão Alimentar

No ano de 1961, pela primeira vez as diretrizes nutricionais das autoridades mundiais guiaram as pessoas para reduzir o consumo de gorduras, indicando que óleos vegetais refinados seriam mais “saudáveis” que a gordura natural, bem como a divulgação de uma pirâmide alimentar colocando grãos e cereais como a base da alimentação e açúcar como o topo. O resultado disso 40 anos depois, é que temos uma epidemia mundial de obesidade, um aumento absurdo da incidência de doenças cardíacas, e a crescente contagem de diagnósticos de transtornos alimentares.
Entre os transtornos alimentares encontramos a anorexia, a bulimia nervosa e a compulsão alimentar. A anorexia apresenta relatos de sua observação desde a época de Cícero (106-43 a.C.) e ganhou essa denominação em 1873 com William Gull, que relatava incidir principalmente sobre mulheres jovens que buscavam uma magreza absoluta e apresentavam ausência de fome, reparamos assim que é bem antiga. Entretanto transtornos como a bulimia e a compulsão alimentar apresentam relatos mais recentes, coincidentemente começaram a ser observadas em torno da década de 80. A Bulimia nervosa apresenta seus primeiros relatos datados de 1979, caracterizada por episódios de ingestão compulsiva e rápida de grandes quantidades de alimento, alternada com comportamentos de perder peso (episódios expurgativos).  E o objeto de estudo que buscamos nesse post, a compulsão alimentar, apresenta seu primeiro relato por Stunkard em 1959, tendo sido reconhecida como uma síndrome apenas em 1977 por Wertmuth et al, inicialmente associada à bulimia. Somente em 1991 a compulsão alimentar passou a ser reconhecida como uma categoria isolada que necessitava de pesquisas mais incisivas. Ou seja, uma doença bem recente, que só se desenvolveu após as recomendações nutricionais terem sido estabelecidas como as vemos hoje.
Como é preciso encontrar as causas desse problema, as pesquisas buscaram encontrar “razões”, buscando perfis psicológicos, o que nunca pode ser definido, pois não há características comuns entre os portadores desse transtorno. Cheguei a ler em alguns artigos que o compulsivo alimentar é uma pessoa que não se importa com sua forma física... Isso não reflete a realidade, pois podemos ver o quanto se sentem discriminados, se sentem culpados por não conseguirem emagrecer, e há casos até mesmo de se isolarem socialmente. Então a “culpa” recai sobre os hábitos alimentares e a “predisposição” da pessoa a desenvolver esse transtorno, assim como ouvimos muitos dizerem que "come muito porque quer", e até mesmo atribuir a "sem vergonhice", o que também são grandes engodos, visto que se trata de compulsão, estando longe do alcance da pessoa de exercer controle por esse comportamento, além de sofrer com isso diversos sentimentos negativos.  Os dados oficiais divulgados estimam que a prevalência da compulsão alimentar seja de 2% na população, mas repare na descrição dos critérios diagnósticos:
1 – ingestão em um período limitado de tempo de uma quantidade de alimento definitivamente maior do que uma pessoa deveria consumir (ou seja, não come muito o tempo todo, mas sim em EPISÓDIOS)
2 – sentimento de falta de controle sobre o consumo alimentar durante o episódio (não da qualidade mas sim da quantidade, como a pessoa que come o pacote todo de biscoito)
*comer até sentir-se repleto, comer rapidamente, comer grandes quantidades de alimento quando não fisicamente faminto, sentir-se mal consigo mesmo após comer
3 – angústia relativa aos episódios periódicos (a pessoa sente culpa sim)
4 – Ter pelo menos dois episódios por semana, ao longo de 6 meses
E se começarmos a refletir, conhecemos muitas pessoas que apresentam esse comportamento, em determinados horários, fases da vida, ou mesmo em períodos de estresse. Muitas vezes, nós mesmos podemos estar apresentando esse comportamento mediante períodos de estresse emocional ou frustração, como um mecanismo de compensação. O fato de apresentar episódios uma vez por quinzena também é preocupante, por ser frequente.
Não é mais segredo as motivações emocionais que os alimentos representam para as pessoas. Todos temos os alimentos de “conforto”, normalmente envolve algum açúcar ou carboidrato simples (massas), e costumamos descontar frustrações recorrendo a esses alimentos. O interessante é que nunca conheci uma pessoa que usasse “alface” como alimento de conforto, e quem estiver lendo isso vai pensar: “é óbvio”. Mas porque é óbvio? Pela lógica da importância emocional, não vem a explicação do sabor, ou textura, pois seria simplesmente a ingestão. Mas sim, tem muito a ver, pois esses alimentos ricos em carboidratos eles tem um efeito especial, eles são produzidos para agradar excessivamente nosso paladar, e somos seres movidos pelo prazer. O que é mais apetitoso: uma pizza ou um pimentão? Resposta óbvia não é mesmo? Entretanto esses alimentos engordam muito, trazem sérios problemas de saúde, e são disparadores de compulsão. Portanto, os alimentos que uma pessoa identifica como disparadores de compulsão,  precisam ser evitados ao máximo, e mesmo quando for consumi-los, fazer com que seja de forma reduzida (como comprar uma coxinha e comer em outro lugar onde não possa comprar mais uma).
As pessoas comem, engordam, e ao longo da VIDA fazem o que? Dietas e regimes para tentar emagrecer, se impondo severas restrições alimentares,  até mesmo nutricionais, por longos períodos. Existem ainda as perspectivas de dietas em que a pessoa deve se impor padrões muito rígidos de alimentação, comendo de 3/3h quantidades calculadas de calorias. Acontece que a rigidez e a restrição alimentar são também fatores de precipitação da compulsão alimentar, pois todo comportamento restritivo gera por si só angústia e ansiedade, como também frustração. Toda pessoa exposta a esses sentimentos por longo período de tempo irá buscar um escape em algum momento. Além disso, o compulsivo alimentar tende a girar sua vida em torno da comida, pois acaba se tornando a sua principal fonte de prazer (visto que nas relações sociais pode ser discrmininado e até sentir-se retraído por vergonha do próprio corpo). Portanto uma dieta para comer de 3/3h irá fazer com que o compulsivo PENSE em comida o dia todo, reduzindo em muito as chances de conseguir controlar seus episódios.
Temos uma cultura muito ilógica, em que parece que as pessoas tem medo de passar fome, enquanto nunca se teve tanta oferta de alimento com a maior facilidade. Em nome de não passar fome as pessoas comem mesmo não sentindo fome, e isso não permite que nossos mecanismos naturais funcionem adequadamente. Aprendemos desde crianças a comer mesmo sem estar com fome. Com uma busca rápida na internet se encontra diversos artigos sobre como fazer crianças comerem, e como faze-los comer comidas saudáveis. Isso porque os pais aprenderam com seus pais, e sei lá, talvez com seus avós também, que é preciso obrigar a criança a comer “pelo bem dela”. Então se dá comida o tempo todo o dia inteiro para as crianças, e não se permite que elas sintam fome e através desse sentimento (fome) comam o brócolis, a couve flor, o espinafre, a vagem, a pera, o abacaxi, etc. Além de tornarmos a alimentação baseada em carboidratos, ainda as ensinamos a comer demais, obrigamos a comer até não aguentarem mais, e não as ensinamos a respeitar a saciedade. Quando obrigamos nossos filhos a comerem o tempo todo, e a comerem mais do que deveriam, bem como recorremos a alimentos mais saborosos e menos saudáveis para garantir o volume diário de ingestão, ao invés de garantirmos a qualidade diária de ingestão, estamos ensinando um padrão alimentar errado, e que nossos filhos irão carregar ao longo da vida podendo desenvolver problemas de saúde em decorrência disso.
O resultado de anos de compulsão alimentar acaba sendo a obesidade, e hoje observamos o boom de cirurgias barátricas. Acontece que um compulsivo alimentar passar por esse procedimento que é invasivo e pode colocar sua vida em risco (tanto no momento da operação quanto no pós operatório numa perspectiva de 3 anos), não vai ajudar em nada. Pode conseguir emagrecer em um primeiro momento e depois engordar tudo novamente ao longo de 5 anos, mas também pode romper os pontos cirúrgicos em um episódio de compulsão deixando vazar material gástrico no corpo, correndo risco de desenvolver infecções e até morrer. O correto é tratar a compulsão antes de pensar em fazer um procedimento como esse.
Dados interessantes mostram que a terapia cognitivo comportamental consegue sucesso no controle e redução da compulsão alimentar em 91% dos casos (Duchesne, 2007), entretanto não há dados que comprovem a redução de peso (relatado em apenas 24% dos casos), até mesmo porque o tratamento da compulsão é incompatível com as dietas restritivas tradicionais. A manutenção desse equilíbrio no comportamento alimentar entre os que não perdem peso entretanto não é mantida, e cerca de 42% acabam tendo recaídas após 1 ano, demonstrando a estreita relação entre a compulsão alimentar e os sentimentos negativos a respeito do próprio peso, e colocando em evidência a necessidade de associar terapia e emagrecimento através de metodologias mais funcionais (não restritivas -  e que são indicadas fontes de pesquisa sobre isso no final desse post).
Para tratar a compulsão alimentar é necessário acompanhamento psicológico e médico, pois muitas vezes há associado outros transtornos decorrentes da compulsão, como ansiedade e depressão, podendo ser necessária a administração de medicamentos psicoativos. E acredite, o tratamento da compulsão alimentar envolve não fazer nenhum tipo de dieta ou imposição restritiva alimentar. É importante considerar que precisamos ter uma alimentação saudável, associada com comportamento alimentar saudável. De nada adianta ser compulsivo com comida saudável, pois engorda do mesmo jeito! Por isso, quem se identifica compulsivo, precisa buscar ajuda profissional, para aprender a lidar com a compulsão, e não se jogar em novas dietas e regimes que irão desencadear novos episódios compulsivos.

Em minhas pesquisas por uma alimentação mais saudável e simples, encontrei muitas informações valiosas, baseadas em ciência de verdade, não sensacionalista e sem distorções para beneficiar uma determinada indústria. Essas informações me ajudaram a melhorar o perfil alimentar meu e da minha família, bem como a compreender os motivos da grande dificuldade de muitas pessoas em conseguir emagrecer. Gostaria de compartilhar com vocês essas fontes, e se alguém conhecer outras pode compartilhar também! 
Nesse link vocês podem ouvir o conteúdo sobre esse tema, sempre com a participação de médicos especialistas e o Dr. Souto, que é o autor do lowcarb-paleo.com (atenção especial aos podcasts n. #8 e #9).

Esse é o blog do Dr. Souto e logo abaixo algumas sugestões de leituras desse mesmo blog

  
REFERÊNCIAS
Terapia Cognitivo Comportamental em obesos com TCAP, Rev Psiquitr RS, 2007
Terapia Cognitivo Comportamental para problemas psiquiátricos: um guia prático, K Hawton, et. al,  Martins Fontes, São Paulo, 1997.
Compêndio de Psiquiatria: ciências do comportamento e psiquiatria clínica, Harold Kaplan et. al, 7ed, Porto Alegre: Artmed, 1997
Transtornos Alimentares: fundamentos históricos, Táki Ahanássios Cordás e Angélica Medeiros Claudino - Rev. Bras. de Psiquiatr: vol 24 suppl3, São Paulo, Dec 2002
Transtornos Alimentares, José Carlos Appolinário e Angélica Claudino - Rev. Bras. de Psiquitr: vol22 s2 São Paulo, Dec 2000 
Comportamento de restrição alimentar e obesidade, Fabiana Bernadi et. al - Rev. Nutr, vol.18 no.1 Campinas Jan 2005


19 de jul. de 2016

Ciúme

Nos registros históricos o ciúme surge com a formação patriarcal da sociedade, como uma necessidade masculina por garantir a fidedignidade de sua descendência. Nesse contexto, o ciúme foi a justificativa para a violência extrema que as mulheres sofreram por séculos, ao passo que à elas esse sentimento era proibido.
Apenas nos anos 60, com a revolução sexual e a possibilidade da mulher obter controle sobre sua fertilidade, bem como a quebra de muitos tabus sobre a sexualidade, a mulher começou a expressar esse sentimento da mesma forma que o homem.
Contudo, o ciúmes é um sentimento ligado à crenças a respeito de amor, auto preservação,  e baixa estima, que pode despertar emoções como raiva e tristeza. Acredito que já existia muito antes dos registros históricos, e que mesmo sendo proibido às mulheres no passado, elas também o sentiam, encontrando formas alternativas de expressá-lo.
Segundo Regina Navarro Lins (2007), as crenças e a importância do ciúme no repertório emocional de uma pessoa são construídas desde primeira infância, a partir de suas relações com a mãe e o pai. Para Lins, o adulto vive o amor de forma semelhante à sua relação amorosa com a mãe quando era uma criança pequena, pois bebê necessita de paz, aconchego e proteção, que obtém através do contato físico com outra pessoa. Quando está sozinho sente-se abandonado e chora na busca pelo colo e acalento; e essa é a primeira manifestação de amor. À medida que cresce a criança torna-se mais independente, entretanto esse amor ainda é o seu referencial de vida e sente medo de perdê-lo, por isso a criança pode mostrar-se “controladora, possessiva e ciumenta, desejando a mãe só para si”. Por isso associamos o medo de não sermos amados à perda de tudo, inclusive da vida, pois esse risco que é real na infância pode ser alimentado na idade adulta em uma família onde a dependência emocional dos pais é mantida. Nesses casos, quando surge um relacionamento amoroso a dependência é transferida para a outra pessoa, com quem irá tentar satisfazer suas necessidades infantis.
Se a pessoa só consegue ficar bem ao lado da pessoa amada, e amor é a solução de todos os problemas, a pessoa amada torna-se extremamente importante à sobrevivência. Assim surge o medo de perdê-la, desenvolvendo comportamentos de controle, possessividade e ciúmes. Apesar de socialmente tolerado na maior parte dos casos, isso faz com que as pessoas permaneçam juntas mais por necessidade do que pelo prazer na companhia um do outro, gerando expectativas infantis, como querer que o outro adivinhe o que sente ou deseja e esteja sempre pronto a fazê-lo feliz, assim como um bebê que depende que sua mãe adivinhe suas necessidades estando sempre atenta de forma exclusiva à ele. Tenta-se controlar a pessoa amada acreditando que assim diminuirá as chances de abandono, chegando-se a exigir que a outra pessoa submeta-se a prestar satisfações sobre seu dia ou até mesmo aceitar a vigilância constante. Encontramos ainda pessoas que inflam a própria autoestima quando seus pares demonstram ciúmes, e alimentam esse comportamento (podendo até instigar).
A questão do ciúme também está ligada à imagem que a pessoa tem de si mesma. Pessoas com baixa autoestima tendem a ser mais inseguras. “Quem é amado sente-se valorizado, com mais qualidades e menos desamparado. Portanto quanto mais intenso o sentimento de inferioridade, maior será a insegurança e mais forte o ciúme. O caminho mais fácil é tentar restringir ao máximo a liberdade do outro.” Pessoas que parecem ser autossuficientes socialmente, podem revelar-se extremamente inseguros e dependentes no contexto amoroso.
Pessoas com boa autoestima, que se consideram atraentes e interessantes não pensam que podem ser trocadas com facilidade, e percebem que se a relação acabar irão sofrer, mas também sabem que serão capazes de superar.
Em alguns casos a manifestação de ciúmes pode ser tão exacerbada, ou mesmo desviar da realidade, o que na psicologia e psiquiatria conhecemos como ciúmes patológico. Balliero (2008) relaciona o ciúmes patológico a diferentes transtornos mentais, como o Transtorno Obsessivo Compulsivo, Transtornos de Personalidade, Transtorno Delirante, Psicose Orgânica, Psicose Alcoólica, e Esquizofrenias. Entretanto a presença do ciúmes patológico não está condicionado à existência de um transtorno mental, podendo ser considerado de forma independente, desde que a presença do comportamento relacionado à ciúmes esteja interferindo na qualidade de vida e de relacionamento de uma pessoa.  Nesses casos a pessoa precisa de tratamento psicológico, podendo precisar de associação medicamentosa dependendo da gravidade do caso.
Existem formas da pessoa manejar o próprio ciúmes, de forma a relacionar-se melhor com seus pares, a seguir vão algumas dicas:
Entenda a vida social de seu parceiro(a) e aceite que vocês precisam interagir com outras pessoas. Procure compreender que seu par não pode controlar o comportamento dos outros, e que é muito diferente ser educado de ser permissivo, uma pessoa não pode ser condenada por ser educada.
Cuide de sua auto estima, valorize-se, busque realizar atividades que te façam sentir bem consigo mesmo, como cuidar de sua saúde, aparência e profissão. Muitas vezes o ciúmes é uma defesa do próprio ego, para não cair nessa armadilha trate de sentir-se interessante cuidando de si mesmo.
Esqueça a ideia de posse, manter uma pessoa ao seu lado é uma CONQUISTA, e não uma ameaça ao outro. Se uma pessoa está com você é porque quer assim. Lembre que ninguém é obrigado a estar com ninguém e as pessoas ficam juntas quando a companhia é agradável. Tentar obrigar o outro a estar com você já acaba com todo o prazer.
Racionalize, muitas vezes o ciúmes cria fantasias na cabeça da pessoa. Busque comparar seus pensamentos com a realidade, e não com outros pensamentos.
Controle seus impulsos, quando estiver nervoso não é hora de se expressar, acalme-se primeiro, reflita sobre a situação e só depois converse de calma, expondo o que te incomodou e como poderia ter sido evitado, estando aberto a ouvir o que a outra pessoa tem a dizer.
Não alimente o ciúmes e seja flexível, apesar de ser lisonjeador as vezes ver que seu par sente ciúmes de você, lembre quantos sentimentos desagradáveis a pessoa irá vivenciar com isso, e seja flexível afim de garantir que a pessoa consiga sentir-se segura no relacionamento.

Por fim, DIÁLOGO, sempre! Conversar de forma racional e ponderada é sempre o que fortalece os relacionamentos.

28 de jun. de 2016

AUTO ESTIMA

Só para esclarecer a respeito do termo: auto estima significa a estima que tenho em relação à mim, por isso falamos em auto estima positiva ou negativa, boa ou ruim, mas não dizemos alto estima e baixa estima como se fosse alto astral e baixo astral. A palavra auto não provém de altura ou qualidade, mas de referência à si próprio. Esclarecidos, vamos aos conceitos!
Auto Estima é o conjunto de crenças, conceitos e valores que construímos a respeito de nós mesmos ao longo da vida, basicamente podemos dizer que a auto estima é forma como nós nos percebemos em relação ao mundo. A base de formação da nossa auto estima ocorre principalmente na infância, através da troca afetiva com nossos pais. Pais que são capazes de fazer os filhos se sentirem seguros e amados estão contribuindo para a formação de adultos mais seguros, confiantes de suas habilidades e com uma auto estima mais positiva.
Mas ao longo da vida esse auto conceito vai se tornando cada vez mais elaborado, pois além da percepção de si mesma que a pessoa aprende no ambiente intrafamiliar, a convivência no ambiente social expõe a pessoa ao julgamento e percepção alheios.  A forma como nós nos vemos não corresponde ao resultado exato da imagem que o espelho reflete, ou de habilidades concretas que possuímos, mas sim à forma como percebemos que os outros nos veem.  Por isso conhecemos pessoas que são muito bonitas que se consideram feias, e pessoas inteligentes e capazes que se consideram sem habilidade nenhuma, bem como podemos encontrar situações opostas também. O que ocorre na verdade é que essas pessoas desenvolveram ao longo da vida, formas de se relacionar com as outras pessoas e com o mundo, que não são muito saudáveis, e a partir disso constroem conceitos sobre si e sobre o mundo que são disfuncionais. A auto estima é um constructo importante da nossa personalidade, sendo positiva e congruente com a realidade, podemos conquistar uma boa qualidade de vida, e sendo negativa ou incoerente com quem nós somos de fato podemos desenvolver problemas como tristeza, angústia, insegurança, etc.
Uma boa dica para a pessoa melhorar sua auto estima, é prestar atenção sobre quais palavras frequentemente usa para referir-se a si mesma, e modificar todas as que forem negativas. O cérebro é om órgão fantástico e poderoso que nós temos, portanto se eu digo sempre que “não vou conseguir”, então é quase certo que não conseguirei. Se sempre me digo que não sou capaz, que ninguém nunca irá me amar, que nunca conseguirei aprender, etc, então essas coisas tendem a se tornar realidade pois o seu cérebro irá receber essas pequenas frases autodestruidoras como ordens, e vai começar a desencadear uma série de pensamentos e comportamentos para que suas “ordens” sejam cumpridas. Portanto o ideal é tomar consciência de suas palavras auto derrotistas e corrigi-las, substituindo por frases mais positivas como: eu sou capaz, eu consigo, eu posso, eu sou amada, eu aprendo etc... Essa substituição deve ocorrer inclusive no diálogo interno, de forma a modificar como a pessoa pensa. Sempre que possível também é bom contextualizar essas frases afirmativas com situações que já passou pela vida que podem provar o quanto você é capaz de conseguir atingir os objetivos.

Pessoas que tenham uma maior dificuldade em lidar com sua auto estima, precisam buscar um atendimento psicológico para receber ajuda profissional.

Problemas decorrentes do trabalho: ESTRESSE E DESEMPREGO

O trabalho é umas das partes importantes de nossas vidas, quando o produto do trabalho nos dá orgulho, sentimos que estamos no trabalho correto onde somos estimados, temos oportunidades de crescimento, e que é recompensador financeiramente, então o trabalho é uma fonte de prazer e desenvolvimento pessoal. Existem muitas pesquisas demonstrando que um trabalhador que se reconheça nessas condições tem melhor saúde e qualidade de vida.
Entretanto essa não é a realidade da maioria, que em geral podem estar insatisfeitos ou estressados com sua vida ocupacional. Em períodos de crise econômica encontramos muito mais dois problemas que quero abordar: o estresse e o desemprego.
Quando as pessoas sentem que estão no emprego errado, ou quando seus esforços físicos não são proporcionais à satisfação e recompensa que encontram no seu trabalho, o resultado pode ser o estresse. Outro fator que vem a potencializar o estresse é a pressão, que pode gerar conflitos e supressão de agressividade, um dos motivos pelos quais a violência vem se tornando um problema recorrente nos ambientes de trabalho. Quando intenso e frequente, o estresse pode ser a causa de problemas cardíacos, musculares, fadiga, resfriados frequentes, insônia, dor de cabeça, distúrbios estomacais e até mesmo de transtornos mentais. O trabalhador estressado tem redução em sua produtividade, e desenvolve problemas de relacionamento familiar e social. O ideal seria uma redução nas horas trabalhadas, bem como o aumento do número de intervalos. Outras medidas como exercícios, música e meditação também ajudam bastante.
Talvez o maior estressor ligado ao trabalho seja o desemprego. Em períodos de crise econômica as empresas tendem a enxugar seus quadros de funcionários drasticamente, uma realidade que temos observado com muita tristeza atualmente. Na década de 1930 houve a maior crise econômica de todos os tempos, e nesse período os estudos sobre a pessoa desempregada revelou o desenvolvimento de doenças físicas e mentais, incluindo enfarte, derrame, ansiedade, depressão, problemas conjugais e familiares, problemas de saúde, psicológico e de comportamento nas crianças, e suicídio.
O estresse resulta não só da perda de renda e consequente dificuldade financeira, mas também o efeito dessa perda no autoconceito e nos relacionamentos familiares. Os homens que ligam seu papel familiar ao sustento e provimento, e ambos os trabalhadores que ligam a própria identidade ao seu trabalho e acreditam que seu valor é definido pelo dinheiro, perdem mais que o emprego, perdem suas identidade, parte si mesmos e sua auto estima.
Os que conseguem lidar melhor com o desemprego são que tem recursos financeiros (economias ou renda de outros membros da família), pois tendem a avaliar a situação de forma mais objetiva, e sentem  que podem contar com o apoio familiar. Esses tendem a acreditar que podem influenciar positivamente sua situação no futuro, e conseguem ver o desemprego como um desafio para o crescimento  emocional e profissional, podendo mudar a direção de seus trabalhos e de suas vidas.

14 de jun. de 2016

Homofobia

A Homofobia foi um dos vetores principais no atentado que resultou em mais de 50 mortes na cidade de Orlando nos EUA, em junho de 2016. Apesar da nomenclatura sugerir que haja “medo de homossexuais”, na verdade o comportamento homofóbico é regido pelo preconceito, uma questão social difícil de ser resolvida e que está envolvida em muito de nossos comportamentos: como dizer que baianos são lentos ou preguiçosos, “brincar” com a sexualidade dos gaúchos, etc. 
As consequências do preconceito ora são sutis, ora são violentas, pois pode despertar nas pessoas sentimentos de repulsa, raiva, e revolta,  o que pode leva à atitudes extremas como observadas nesse atentado de Orlando, agressões físicas, estupro de lésbicas, etc. Mas também à formas de violência mais veladas, que são menos divulgadas: vão desde a exclusão social, ao tratamento frio, sem afeto. A gravidade do comportamento homofóbico será determinado pelas características da personalidade de cada pessoa.
A homofobia não é classificada como um transtorno nem pela CID-10, nem pelo DSM-IV, por não ser uma doença psíquica e sim um problema social. O origem desse problema vem do pensamento discriminatório social que tende a classificar as pessoas e culturas, nesse caso específico começa com a questão do valor, em que heterossexuais seriam melhores que homossexuais, e daí se desdobram em diversas formas de desvalorizar o homossexual. 
É muito difícil combater esse problema, entretanto é importante que as pessoas se autoanalisem, pensem sobre seus preconceitos, que não se resumem ao sexismo (que além da homofobia compreende também a desvalorização da mulher, com os consequentes problemas de violência doméstica e estupro), mas que também se estendem a outros estereótipos aprendidos ao longo da vida, como o dos baianos, gaúchos, negros, pessoas com deficiência, pessoas com distúrbios mentais, e tentem buscar a moderação e a ponderação em seus pensamentos e atitudes. 
O preconceito é um problema social, com remédios individuais, somente a reflexão pessoal pode levar uma pessoa a combater esse mal.

17 de mai. de 2016

DEPRESSÃO: compreenda o que ela faz com a mente, o corpo e o comportamento das pessoas.

Leon Tolstói descreve o seu período depressivo da seguinte maneira:
“ Minha vida teve uma parada súbita. Eu era capaz de respirar, comer, beber, dormir. Não podia, na verdade, deixar de fazer isso, mas não havia vida real em mim”.

O transtorno depressivo vem sendo estudado há muito tempo, e apesar de ter suas causas desconhecidas, considera-se que seja uma interação dinâmica entre fatores biológicos, genéticos e psicossociais. Dentre os fatores biológicos a ciência realizou descobertas impressionantes, que possibilitam explicar, ao menos parcialmente, as causas da depressão.
Esses fatores biológicos podem ser divididos em:

*DESREGULAGEM DOS NEUROTRANSMISSORES:
Há uma alteração na produção e funcionamento de substâncias importantes ao funcionamento cerebral, como a noradrenalina, a seretonina, a dopamina, a endorfina, a acetilcolina, e a vasopressina.

*DESREGULAGEM NEUROENDÓCRINA:
Há alteração na produção de hormônios importantes ao funcionamento mental e corporal, podendo haver alterações do eixo adrenal, da tireóide e do hormônio do crescimento. Pode ainda haver a diminuição da secreção noturna de melatonina, liberação diminuída de prolactina, níveis basais diminuídos do hormônio folículo-estimulante e hormônio luteinizante, bem como a redução dos níveis de testosterona nos homens.

Todas essas descobertas sobre a depressão demonstram que ela deprime o funcionamento cerebral, alterando funções básicas de sobrevivência como a sede, a fome, o sono e o sistema imunológico.
Entretanto, mesmo diante tanto conhecimento já alcançado, a depressão ainda não pode ser diagnosticada através de exames de sangue, urina, ou de imagem cerebral. Todos esses exames são solicitados pelos médicos, com a finalidade de descartar outras doenças que poderiam estar simulando os mesmos sintomas da depressão. O diagnóstico do transtorno depressivo é essencialmente baseado na observação clínica dos sintomas.
Então vamos aos sintomas!
Muitas pessoas acreditam que depressão é sinônimo de tristeza, mas não é. O humor deprimido (ou o sentimento de tristeza) pode estar até ausente, pois caso a pessoa esteja experimentando uma redução importante na sua capacidade de interessar pelas coisas, ou mesmo de sentir prazer, já podemos considerar a depressão.
Os principais sintomas são o Humor deprimido, (que nas crianças pode ser visto como humor irritável), e a redução da capacidade de se interessar pelas coisas ou sentir prazer (são comuns relatos das pessoas deixarem até de sentir o sabor da comida).
Os demais sintomas envolvem alteração de peso sem dieta, dificuldades com o sono (a pessoa pode ficar com insônia, ou ter a necessidade de sono aumentada), agitação, retardo psicomotor, fadiga, perda de energia,  sentimento de inutilidade, sentimento de culpa excessiva e inapropriada, capacidade de concentração e memória reduzidas, pensamentos recorrentes sobre a morte, insatisfação com a própria vida, tendência a se afastar das pessoas.
A depressão pode ocorrer em um único episódio, ou ter recorrentes episódios ao longo da vida, apresentando intensidades diferentes, e normalmente cada vez mais graves. Estágios mais avançados desse transtorno podem levar a pessoa a desenvolver sintomas psicóticos e até a catatonia (estado em que a pessoa permanece imóvel). Pessoas que sofrem de depressão profunda relatam sentir uma dor emocional muito intensa. É muito comum que diante a melhora dos sintomas mais intensos, os pacientes cometam suicídio, e é por esse motivo que podemos dizer que a depressão mata. Alguns pacientes que chegaram a tentar suicídio, mas conseguiram ser salvos, relatam que fizeram esse ato de desespero pelo medo de voltar a sentir o que vivenciaram durante a fase mais intensa dos seus episódios depressivos.

É importante ressaltar que a pessoa não precisa apresentar todos os sintomas para ter a depressão, e caso apresente qualquer dos três sintomas que foram mencionados, por mais que duas semanas, é importante que procure ajuda profissional para fazer um diagnóstico mais exato, e começar com o tratamento o quanto antes possível, a fim de ter uma perspectiva melhor de não vir a sofrer com os sintomas mais graves da depressão no futuro.

10 de mai. de 2016

UM BREVE HISTÓRICO DA DEPRESSÃO: entenda o preconceito

O histórico da depressão é muito importante para entendermos porque as pessoas desvalorizam tanto esse problema grave. Se engana quem pensa que a depressão é uma doença da moda, ou uma doença nova, dos tempos modernos. A depressão atinge a humanidade há milhares de anos. Podemos encontrar referências à esse transtorno entre os escritos de Hipócrates, Platão, Shakespeare, Homero, Fairet e até mesmo na Bíblia Sagrada. Na Grécia Antiga a tristeza profunda acompanhada de afastamento da realidade externa, sentimentos de culpa exagerados e tendências suicidas, era conhecida por Melancolia. Hipócrates (um antigo pensador grego) atribuía a causa da depressão ao acúmulo de bile negra no organismo, e o tratamento consistia em expurgantes, o que não ajudava nada. Platão descreveu a mania ou a fúria dos poetas como sendo um estado de excitação. Homero descreveu em Ilíada um herói desfavorecido pelos deuses que “...vagava sozinho, a alma por dentro a roer e a fugir do convívio dos homens...”. Na Bíblia Sagrada vemos referências à natureza depressiva do rei Saul, como também há uma descrição interessante da depressão no Livro de Jó. Areteo de Capadócia (50 – 130 A.D.) considerou que as síndromes maníacas e depressivas constituiam um só transtorno, diferenciando apenas síndromes somáticas (acúmulo de atrabílis) e reativas (mal do amor).
Entretanto, na Idade Média a censura da Igreja ao pensamento greco-romano fez cessar a busca pelo conhecimento científico-natural, fazendo surgir então o pensamento mágico religioso. Foi nesse período que as doenças receberam a conotação de pecado, vício e problema ético-moral. Sendo assim, todos os doentes psíquicos (inclusive os depressivos) foram incluídos entre os feiticeiros, possuídos, e ociosos. Essas teses religiosas, apesar de infundadas influenciam até os dias de hoje o pensamento popular sobre os distúrbios mentais. Ou seja: grande parte da população acredita que a depressão possa ser fruto de influência demoníaca, ou ociosidade, e que o remédio para a depressão seja trabalhar.
Nos últimos anos a “DEPRESSÃO” popularizou-se ainda mais, tanto por ser um transtorno psiquiátrico importante, que teve grandes avanços científicos e tecnológicos de diagnóstico e tratamento, quanto pela gravidade e abrangência epidemiológica, pois hoje ela atinge cerca de 20% da população mundial e pode levar a pessoa a cometer suicídio.
Existem muitos preconceitos e informações inverídicas que sustentam um comportamento populacional inadequado. É preciso ler, entender, conhecer a Depressão, pois certamente em algum momento da vida todos irão conviver com ela, seja sofrendo pelo transtorno, seja convivendo com alguém que sofre.

Confira a próxima postagem em que explicarei um pouco sobre como a depressão age no cérebro, corpo e comportamento das pessoas.


3 de mai. de 2016

Fobia

Vamos conversar um pouquinho sobre os medos? Você sabia que todos temos medos, e que os medos são sentimentos derivados da ansiedade? Pois é! O medo é uma das emoções mais básicas do ser humano, e graças ao medo nossa espécie sobreviveu até os dias de hoje! O medo de morrer nos faz reconhecer situações perigosas, impedindo de pular grandes alturas, nos mantém distantes de cobras, leões, ursos... Ele é necessário para que evitemos perigos, e na medida certa é muito saudável. Na vida do homem das cavernas o medo era um sentimento essencial, pois diante qualquer situação que representasse risco à sua vida ou integridade física, o medo era ativado, liberando uma série de hormônios e substâncias neuroquímicas que ativam o sistema nervoso simpático e parassimpático, preparando o homem para lutar ou correr. Só que as eras se passaram, a vida das pessoas hoje mudou muito. Hoje situações que podem ser percebidas como um risco à vida e a integridade, podem não ser tão graves assim, como uma mulher usando um vestido igual ao meu numa festa, ou a presença de um colega de trabalho muito competitivo. Mas o cérebro as entendem como se fossem perigo, gerando sentimentos de insegurança, que por períodos prolongados podem levar à estafa, ou criando os medos patológicos, que como muitos já devem ter ouvido falar, são chamados de FOBIAS. Como há uma grande variedade de medos, a criatividade para dar nome às fobias é incrível: aracnofobia (medo de aranhas), hidrofobia (medo de àgua), claustrofobia (medo de lugares fechados), narebofobia (medo de nariz grande), rsrsrs tá certo a última eu inventei! Mas foi uma brincadeira, pois não importa do que você tem medo, importa como você se sente! Se você perde a razão, o controle sobre suas emoções e comportamentos, sente-se oprimido por esse medo, e ele não é racional, é simplesmente uma fobia. O medo patológico é algo que domina a mente da pessoa, e faz com que ela viva em função disso, elaborando estratégias para se esquivar do medo, e quanto mais a pessoa se esquiva do medo, maior ele se torna e mais comportamentos de esquiva a pessoa sente a necessidade de desenvolver, até que a pessoa tem parte de sua vida prejudicada por um medo irracional e sem sentido. Vou dar um exemplo: uma pessoa começa a pensar que morcegos são animais perigosos, e um dia pensa que um morcego poderia entrar pela janela da sua casa (mesmo nunca tendo entrado nenhum, e nem havendo nenhum ninho por ali perto). Então pelo medo de que o morcego entre pela janela da sala, a pessoa começa a manter a janela fechada quando está na sala. Mas depois a pessoa precisa manter a janela da sala sempre fechada, e aos poucos isso se estende para os outros cômodos da casa. A cada dia que o morcego não entra pela casa, ao invés de mostrar para a pessoa que não há perigo, ao contrário, ela pensa que é graças ao seu comportamento de esquiva (ou seja, ter fechado as janelas), que o morcego não entra, e por isso continua mantendo todas as janelas fechadas. A melhor maneira de superar os medos é enfrenta-los. Algumas pessoas podem ser capazes de fazer isso sozinhas, por sentirem-se fortes para isso. Outras no entanto podem estar mais fragilizadas, e assim precisarem da ajuda de um psicólogo para conseguirem enfrentar e superar seus medos. Mas lembrem-se de analisar o próprio medo antes de começar a pensar que está sofrendo de fobia! Se for um medo racional e funcional, que não atrapalhe sua vida não tem problema! Os medos certos e na medida certa são bem saudáveis!

Desejo a todos um ótimo dia, livre de morcegos, leões e jararacas!!!