7 de mar. de 2013

Como familiares podem ajudar pessoas deprimidas.

O apoio familiar ao paciente com depresão representa 60% a mais de chances da pessoa vencer a depressão. Entretanto a maioria das pessoas não sabem o que é a depressão, nem como ajudar, e acabam usando os recursos que tem, sem buscar ajuda para saber como ajudar!
Isso mesmo, receber ajuda para poder ajudar!

A depressão é um transtorno do humor grave, com prevalência média de 14,6% entre a população (fonte: ONU, 2012). No entanto o desconhecimento sobre essa doença, bem como os preconceitos à ela associados, dificultam o diagnóstico precoce e o tratamento eficaz, o que provoca a piora dos sintomas dificultando ainda mais o tratamento, e prolongando o sofrimento das pessoas.
As famílias que tem um membro portador de depressão, podem desempenhar um papel fundamental na vida desse indivíduo, auxiliando na melhora dos sintomas da doença. Mas para poder ajudar é preciso repensar muitos conhecimentos e preconceitos.
É importante que não se negue a existência da depressão, não desestimule a pessoa a fazer o tratamento, nem desmereça o que a pessoa sente. Depressão é uma doença grave e sem cura, que pode levar ao suicídio, sendo essa a oitava causa de morte entre os adultos. Esse transtorno não pode ser controlado apenas com a "força do pensamento" nem com o trabalho exaustivo, assim como a hipertensão e a diabetes, que também são doenças graves e sem cura, cujas causas ainda são desconhecidas, tal qual a depressão. Ou por algum acaso, alguém já foi curado de hipertensão com o pensamento positivo, ou com o trabalho exaustivo?
Assim como no caso da diabetes, da hipertensão e de outras doenças do gênero, a pessoa com depressão pode conquistar uma qualidade de vida e bem estar caso siga corretamente o tratamento psicoterapêutico e medicamentoso (é importantíssimo realizar os dois, pois um sem o outro seria como o diabético que usa a insulina mas não faz dieta). Nesse contexto é que o papel da família é primordial, pois a atitude compreensiva, incentivadora e realista, irão diferenciar exponencialmente os resultados positivos do tratamento. É uma atuação delicada, pois o limiar entre o correto a se fazer e o errado é bem difícil de distinguir num primeiro momento, mas com boa orientação é possível se sairem muito bem! É preciso acolher e compreender, sem ceder e aceitar às demandas negativas e restritivas da depressão, para isso a família irá precisar de muita ajuda, para saber como agir. Em primeiro lugar é preciso conversar com os profissionais que estão trabalhando com seu familiar. O médico poderá lhe ajudar explicando as reações esperadas da medicação, e quais aspectos é preciso observar em casa, quando pedir ajuda, etc. Ter uma conversa franca e aberta com a psicóloga, sobre como tem se sentido, suas expectativas e frustrações em relação à pessoa, também ajudará muito pois ela poderá lhe explicar um pouco mais sobre a depressão, alguns comportamentos que podem ajudar o relacionamento familiar no dia a dia, e ainda indicar bons livros para que vocês leiam e entendam melhor o que ocorre dentro de sua família. É essencial que todos APRENDAM sobre a depressão, pois apesar do muito que se fala quase nada é verdade, e isso atrapalha e frustra todos os envolvidos. Na hora de buscar conhecimentos, é importante que se use fontes confiáveis, bons livros (normalmente os recomendados pelo médico e pela psicóloga são mais confiáveis em seu conteúdo, bem como específicos ao que tem enfrentado), os sites precisam ser de fontes idôneas, os oriundos de profissionais especializados são os indicados, ou seja sites desenvolvidos por médicos e psicólogos. Esse conhecimento será muito útil para a família, afim de saber o que esperar e como agir diante a depressão da pessoa que lhe é tão próxima, além de poder compartilhar esse conhecimento com a pessoa deprimida, que na maioria das vezes tem suas funções cognitivas (concentração, aprendizado e memória) afetadas pela depressão, e por isso não será capaz de ler esses conteúdos sem ajuda.
A família deve também oferecer conforto, ao mesmo tempo que serve como uma consciência auxiliar no teste de realidade ao paciente com depressão. Ou seja, compreender, mostrar que a pessoa não está sozinha, mas esclarecer quais são os fatos e não dar subsídios para a pessoa ceder completamente à depressão. Não adianta forçar a pessoa a sair da cama se ela não tem energia, nem forçar a pessoa a sair e conversar com todos se a pessoa quer ficar sozinha, mas é preciso abrir as portas e convidar, bem como não abrir mão de fazer as coisas porque a pessoa não quer. Conversar com o deprimido e contar as coisas dinâmicas, interessantes ou divertidas que tem vivenciado, mostrando que essa pessoa poderia ter participado e como poderia ter participado também ajuda, pois pode ser um incentivo. Muitas vezes além da pouca energia, o deprimido acredita não ser capaz de interagir com as pessoas.
Por fim, e não menos importante, a atuação da família se estende também ao tratamento médico e psicológico do deprimido, ao ponto que a família pode observar sem as influências do pessismo da depressão, os sintomas que o paciente tem apresentado e deixado de apresentar, bem como avaliar a evolução do tratamento, afim de dar um feedback a esses profissionais, para que se possa adequar bem o tratamento ao paciente.


30 de jan. de 2013

Saudade



Trata-se de uma palavra que existe somente nas línguas galega e portuguesa, que descreve a mistura de sentimentos relacionados à falta, perda, amor, tristeza e nostalgia. Essa expressão surgiu há séculos atrás, no período das grandes navegações, entre as famílias de embarcados, para expressar os sentimentos que tinham relacionados aos entes ausentes.
A saudade é um sentimento natural, assim como a alegria e a tristeza. Pesquisadores sugerem que alguns animais (normalmente mamíferos) sejam capazes de experiênciar esse sentimento também. Como todo sentimento natural, é um sentimento saudável e importante na manutenção da saúde mental desde que sempre esteja equilibrado, permitindo que possamos experiênciar outros sentimentos também, conforme o momento e as circunstâncias.
Podemos experimentar saudade de diversos modos e intensidades. Pode-se sentir saudades de objetos perdidos, animais de estimação, comidas, filmes, perfumes, pessoas amigas, pessoas amadas, lugares onde estivemos, etc... E também existe a saudade que fica após termos perdido um ente querido devido falecimento, e este tipo de saudade é muito diferente, por envolver um processo de luto.
Quando temos saudade de algo que podemos recuperar, esse sentimento é nostálgico, embora possa ser saciado "matando a saudade", o que pode trazer sentimentos e emoções muito agradáveis. Entretanto a saudade que se experimenta devido um processo de luto, essa não poderá ser saciada, e por isso é muito importante conseguir desenvolver um processo de luto saudável, concluindo os ciclos necessários para a resolução desses sentimentos. Esses ciclos normalmente envolvem negação, raiva/revolta e por fim aceitação/superação. É importante que a pessoa possa compartilhar seus sentimentos e pensamentos, ser acolhida em sua dor. Normalmente desabafar junto aos outros enlutados é muito positivo, já que a dor compartilhada é dor diminuída. É confortante saber que não estamos sozinhos com a nossa dor, que há outras pessoas que estão passando pela mesma dor e tristeza que nós, e que podem nos compreender. Nessa troca ainda há mais benefícios, pois em grupo pode-se perceber no outro aquilo que não conseguimos perceber em nós mesmos, que mesmo com o sentimento de ausência, a dor e a tristeza, a vida continua e todos somos capazes e superar e seguir adiante. Fazemos isso naturalmente e não os damos conta, pensamos estar sufocados pela dor, mas ao vermos os outros superando, isso nos dá forças e ânimo.
Nas situações mais extremas como o enlutamento, os rituais religiosos são muito importantes para os indivíduos conseguirem se despedir do ente querido, obter conforto na ausência dos amados, e prosseguir na vida. O que em alguns momentos da vida pode parecer ilógico, na hora do luto é o que pode conseguir trazer algum significado à vida. O ato do velório, um momento onde os vivos se reúnem para despedir do ente falecido, e ali choram, se entristecem, lembram da vida daquela pessoa e dos fatos que as marcaram, esse é um processo de despedida, onde as pessoas vão elaborando suas emoções para começar a lidar com essa ausência definitiva. A seguir vem o enterro, que também possui seus significados, muito além de uma medida higiênica adotada há séculos quando da formação das primeiras cidades, o ato de enterrar finaliza a despedida, o adeus final. Momento muito delicado, triste, decisivo para as pessoas que se despedem, e nesse momento os atos religiosos mais uma vez são os capazes de trazer algum conforto e sentido à vida, na medida em que trazem significado à terra "da terra vieste e à terra retornarás", e na crença do pós vida, onde poderemos reencontrar um dia as pessoas amadas.
Esses processos devem ser respeitados, pois irão determinar uma recuperação mais rápida quando tudo acabar.
Entretanto, saudades que prendem a pessoa a uma vida que não existe mais devem ser tratados como processos patogênicos. Uma pessoa que não consegue superar o falecimento de um ente e vive em reclusão, continuamente triste, sem querer voltar a viver as alegrias do dia a dia, necessita de cuidados psicoterapêuticos, e muitas vezes acompanhamento médico também. Ou então a pessoa apegada à vida que teve num passado distante, ou em um local distante, e simplesmente não conseguem se adaptar e viver felizes e satisfeitas com a vida presente. Essas pessoas tem muita resistência a mudanças, e muita dificuldade de se adaptar. A necessidade nesses casos é de acompanhamento psicológico e análise da necessidade de um acompanhamento médico, caso haja um transtorno do humor ou da personalidade instalado.
A saudade é saudável enquanto não impede que a pessoa experiêncie os demais sentimentos e eventos que a vida tem a oferecer. Quando a saudade começa a dominar a vida de uma pessoa, é hora de buscar um atendimento psicológico.
Bons pensamentos e bons sentimentos!



Consumismo, Shopaholics, Compradores Compulsivos, Síndrome de Sushma...

Vivemos em uma sociedade de consumo, onde expressamos nossa identidade e estilo de vida através dos bens que consumimos. Um antigo vídeo de treinamento para atendentes de lavanderia já dizia que "a roupa é muito importante afetivamente para seu dono, pois representa parte de sua identidade". Esse vídeo já expressava um conceito que em pouco tempo se tornou mais abrangente e arraigado em nossa cultura, o conceito de consumo. O consumo hoje não é apenas para a subsistência, tornou-se um determinador de personalidades e estilos de vida. Não somente as roupas e sapatos, mas também carros, casa, decoração, lugares que se freqüenta e serviços que utiliza, também entram no rol de consumo dos dias de hoje. Hoje o que é considerado consumo necessário vai muito além da subsistência, não se diferencia apenas por classes sociais, mas também por ideologias, estilos de vida, formas de expressar-se. Com toda essa extensão que ganhou o conceito de consumo, a linha que separa o consumidor saudável do shopaholic tornou-se bem mais tênue.
O padrão patológico de comprar foi descrito em literatura de saúde há mais de um século, por Kraeplin e Bleuler. Oniomania, shopaholic, comprador compulsivo, síndrome de sushma, entre outros nomes, trata-se de um transtorno mental do espectro obsessivo compulsivo, que provoca desordem do humor e alteração dos padrões de comportamento. Pode associar-se a outros transtornos ainda, como a depressão, o roubo patológico, a paranóia, podendo levar a pessoa ao suicídio. Isso sem contar uma série de outros problemas que esse transtorno traz, como o endividamento, a perda de crédito, falência, roubos, desfalques, destruição dos relacionamentos amorosos e familiares, etc.
O comportamento patológico é caracterizado por:
*Excessiva preocupação em comprar
*Aflição ou prejuízo como resultado da atividade
*O comportamento de comprar demais não está limitado a episódios de mania/hipomania.

A compra inicialmente proporciona a sensação de ser especial e reduz a sensação de solidão, entretanto logo em seguida a pessoa experimenta sentimentos de decepção e culpa, que acabam desencadeando outro episódio de compra. Outros sentimentos também estão associados, como raiva, estresse, vergonha, etc. Em muitos casos a pessoa chega a ter medo e/ou vergonha de assumir que fez a compra, esse sentimento pode assumir uma intensidade tal, que logo após a compra, a pessoa destrói o item afim de esconder dos familiares e amigos o que fez. O preço desses comportamentos é o fim da saúde mental, financeira e emocional.
Há ainda um outro fator muito importante a ser abordado: crianças que crescem em um lar onde ao menos um dos pais é um shopaholic. Essas crianças crescem com baixa auto-estima por não serem valorizados enquanto seres humanos, indivíduos. Ficam muito sozinhas pois o relacionamento parental, que deveria ser a referência de desenvolvimento, é subvertido pelos bens proporcionados de conforto, brinquedos e comida. Além do sentimento de solidão e baixa auto-estima, essas crianças aprendem padrões de relacionamento distorcidos, orientados para as coisas e não para as pessoas.
É necessário que o comprador compulsivo procure a ajuda de um psicólogo, realize o tratamento psicoterapêutico e médico, que envolverá consultas semanais de psicoterapia, e mensais e/ou quinzenais com o médico. Somente assim a pessoa será capaz de restabelecer seu equilíbrio financeiro, pessoal e familiar, resgatando os relacionamentos e a saúde perdida.


Novas entrevistas

Ontem no RJ 2a edição foi ar uma participação em entrevista ao vivo sobre a inclusão digital da terceira idade, os benefícios e cuidados.
Hoje para a rádio 99,3FM uma nova entrevista foi ao ar às 10:15 sobre o sentimento da saudade.
Nesse sábado teremos também uma pequena participação no Rio Sul Revista da Rede Globo sobre a percepção humana e seus fenômenos.

29 de jan. de 2013

Inclusão digital da terceira idade

A inserção da terceira idade em ambientes virtuais pode trazer inúmeros benefícios à saúde física e mental desses indivíduos, mas é importante que essa mudança de hábitos seja criteriosa.
O ambiente virtual possibilita um novo paradigma à vida das pessoas na melhor idade. Há bem pouco tempo quando as pessoas atingiam uma certa idade, ao invés de "aproveitar a vida" na verdade sofriam perdas importantes. Perdas sociais, afetivas, familiares e físicas, deixe-me explicar: após uma aposentadoria a pessoa se via desprovida de todo o convívio social e profissional que a vida laborarativa o propiciava, com isso fica reduzido o convívio social e as pessoas tendiam a ficar reclusas, mas sem encontrar outras atividades que pudessem preencher o vazio que se formou. Todo esse tempo ocioso, dedicado à nada, promove atrofia física e mental, além dos transtornos psiquiátricos, sendo mais comum a depressão. O principal assunto da vida dessas pessoas, em muitos casos, passava a ser o de doenças e dores, bem como sua visitas ao médico e seus exames de saúde (consultórios e laboratórios se tornavam o destino de "passeios"). Assim o convívio familiar também se reduz (o idoso ou torna-se inconveniente por sua ansiedade de contato, ou se afasta pela tendência à reclusão). Dessa forma a qualidade de vida se reduz, e isso aumenta potencialmente o envelhecimento do organismo e a propensão em desenvolver doenças.
Outro fator muito interessante, é o envelhecimento mental. Além do envelhecimento natural do sistema neurológico que ocorre com os anos de vida, o cérebro funciona quase que como um músculo! Se você está sempre exercitando, utilizando e nutrindo, os músculos tendem a ficar saudáveis e fortes, mas se você mal os utiliza e pouco nutre, ficarão fracos ao ponto de mal serem capazes de sustentar o seu peso. Com o cérebro também é assim, por isso muitas vezes um idoso sofre de demência precoce, ou seja, seu cérebro poderia estar mais ativo e saudável se fosse constantemente usado, exercitado com a aquisição de novas habilidades e conhecimentos, e nutrido, claro, com uma alimentação balanceada, bons sentimentos e bons pensamentos!
A internet não é a resposta para resolver todas as questões dos idosos, mas é um recurso fascinante e envolvente que pode trazer novo fôlego às emoções dessas pessoas! A possibilidade de encontrar antigos amigos, há muito tempo distanciados, as chances de fazer inúmeras novas amizades, e a imensa quantidade de conhecimentos fascinantes à distância de um clik! Novos assuntos e novas possibilidades extremamente acessíveis!
Existe um movimento da terceira idade no mundo digital, podemos encontrar a terceira idade entre blogueiros e nas redes sociais, há inclusive redes sociais especializadas no público da terceira idade. Há idosos que voltaram a estudar, seja por e-learning ou presencial, mas num geral estimulados pela atual acessibilidade aos conhecimentos.
É muito proveitoso a utilização desses recursos na terceira idade, podemos observar que é também fundamental o apoio e incentivo dos familiares, pois essa novidade toda pode causar estranhamento, insegurança e medo (sensação de incapacidade) no princípio. Muitas vezes cabe à família incentivar, ensinar e orientar o seu ente querido a como usar esse recurso. Como nem sempre as pessoas tem a disponibilidade de tempo para ensinar tudo o que é necessário, existem muitos cursos de informática que podem fazer esse papel.
As orientações e cuidados que os indivíduos da melhor idade devem ter, são mesmos indicados à todos os usuários de internet, a seguir as principais recomendações:
*Cuidado com as informações que dispõe no mundo virtual (em hipótese alguma devem ser fornecidos: dados financeiros, números ou cópias de documentos, endereço, nomes e dados de parentes). Salvo aqueles que estão bem familiarizados com a internet e sabem utilizar para transações financeiras, que só podem ser efetuadas em sites seguros com os certificados digitais e com aprovação do banco. Mesmo nesses casos, todo cuidado é pouco.
*Saiba sempre que não há como ter certeza de quem está do outro lado do computador, pode ser uma pessoa fantástica, como pode ser um estelionatário ou um psicopata, portanto não se exponha demais. Quando fizer uma amizade e quiser conhecer essa pessoa ao vivo, nunca vá sozinho e sempre combine o encontro em locais públicos.
*Não se deve substituir a internet pela vida real, o uso da internet deve ter limites, o ideal é de no máximo 3h ao dia, a pessoa precisa conviver com sujeitos reais, ao vivo! Visitar amigos, fazer atividades físicas como aulas de alongamento, hidroginástica, dança e tantas outras é importante além de ser local de aquisição de novas amizades também!
*A noite foi feita para dormir e descansar, e não para ficar navegando na web!
Ficar recluso vivendo somente no ambiente virtual pode deflagrar severos transtornos do humor, não é saudável em nenhuma fase da vida!

14 de set. de 2012

Entrevista para RJTV 2ª edição

Hoje, daqui a pouquinho confiram. O tema é a respeito do envolvimento de jovens com a criminalidade.

Para quem não pôde assistir, segue o link para acessar direto no portal da TV Rio Sul

http://riosulnet.globo.com/web/page/videos_detalhe.asp?cod=14068

13 de set. de 2012

O QUE E FELICIDADE ?

Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente. Érico Veríssimo
 
Existem muitas frases, citações, crenças e até livros sobre a felicidade, isso pois a "felicidade" é o conceito abstrato mais buscado pelas pessoas em todo o mundo, mas mesmo assim, poucos sabem definir o que é, e menos pessoas ainda sabem como obter a felicidade. Claro que um conceito que mobiliza tanto o comportamento e as motivações humanas estaria na pauta de estudos da psicologia! Atualmente a Psicologia Positiva (campo de estudos científicos sobre os comportamentos e motivações humanas a partir de dados empíricos), tem obtido importantes avanços na compreensão desse fenômeno, através das pesquisas de Diener e Biswar-Diener.

Afinal o que é felicidade?

A definição de felicidade mais aceita hoje descreve felicidade como um estado de bem-estar subjetivo que envolve fatores emocionais aliados à uma auto-avaliação mais profunda e racional a respeito da vida. Motivados a descobrir em que consiste a felicidade, pesquisadores pelo mundo afora tem desenvolvido inúmeras pesquisas em torno desse assunto. Em 2005 foi realizada a Pesquisa de Opinião Mundial Gallup, que aferiu entre outras medidas, o nível de bem-estar, economia e saúde das pessoas em geral, abrangendo 155 países. O resultado revelou uma enorme variação sobre como as pessoas percebem a felicidade, mostrando que a sociedade e a cultura interferem na percepção que a pessoa tem de seu nível de felicidade. Sendo assim, o que significa felicidade para um brasileiro, não necessariamente significará felicidade para um coreano.
O que entendeu-se é que o ser humano pode atingir os níveis de bem-estar e satisfação através dos mesmos meios, mas com percepções bem diferentes. Descobriu-se que pessoas que vivem em condições difíceis de sobrevivência, também são capazes de experimentar a felicidade, assim como pessoas em condições confortáveis de vida podem não compartilhar desse mesmo nível de felicidade. Isso porque a cultura e sociedade em que vivem podem interferir nessa percepção através da valorização de fatores específicos.  A seguir vamos analisar os principais indicadores de felicidade identificados:

#Dinheiro
Dinheiro pode sim comprar a felicidade! Na verdade a questão financeira é importante para que a pessoa seja feliz. Afinal, é preciso suprir necessidades básicas como moradia, alimentação, saúde e segurança. Entretanto é necessário estar atento, à medida que as necessidades básicas são supridas o dinheiro parece não representar mais um efeito significativo. Isso pois a satisfação obtida através da compra de artigos de luxo é passageira, logo o bem adquirido perde sua importância afetiva.  Na verdade, nessas pesquisas descobriu-se que o materialismo está associado à infelicidade.

#Capital Social
Inclui valores como confiança e cooperação com projetos coletivos. Dessa forma a capacidade de formar e manter fortes  laços afetivos, contribui muito para o coeficiente de felicidade. No entanto a construção desses laços sociais afetivos tem sido deixada de lado em nossa sociedade ultimamente, devido ao desenvolvimento da cultura individualista que tem distanciado as pessoas. Os relacionamentos pessoais e afetivos tem sido substituídos pelo mundo virtual, onde se constrói relacionamentos superficiais e não se consegue desenvolver habilidades sociais plenas para usar no dia a dia.
Outro fator que se inclui no capital social surpreendeu os pesquisadores: a capacidade de confiar na honestidade e nas boas intenções de pessoas desconhecidas e do governo. Poder confiar em estranhos foi observado ser um fator que traz segurança e bem estar às pessoas, assim como confiar na administração do governo. A desconfiança promove a sensação de insegurança e portanto causa estresse, reduzindo a capacidade de sentir-se feliz.
Estas habilidades são as que permitem conferir significado à própria existência por meio da crença de algo superior a si mesmo - e nesse indicador observamos também a importância da religiosidade na construção da felicidade.

#Necessidades Psicológicas
São requisitos como: sentir-se respeitado, desejar aperfeiçoar-se, ter liberdade e autocontrole.  Nesse critério, ter pessoas com quem se pode contar para um caso de emergência, sejam familiares ou amigos, é também uma parte importante na construção da felicidade. Claro que familiares próximos afetivamente, amigos presentes, e poder confiar em vizinhos é melhor ainda. Quanto maior a rede social de suporte psicológico que a pessoa dispor, maior a sensação de felicidade que ela experimentará.  Ou seja, terá sentimentos agradáveis e por mais tempo.

#Interatividade Personalidade x Cultura
Sentir-se inserido e em certo nível comum (normal) no meio onde se vive é importante. Ao contrário, ser muito diferente daquilo que é aceito e bem visto na cultura da sociedade onde se vive, tem alto potencial de causar mau estar.

#Sucesso
Não tem nada a ver com ser uma estrela de cinema, a menos que seja esse o sonho da pessoa. Este item somente é um indicador de felicidade se decorrer da própria busca pela excelência, e não simplesmente porque em dado momento se foi capaz de fazer algo melhor do que os outros. Ou seja, é a valorização do que possui e não o anseio pelo que lhe falta, obtendo o respeito das pessoas e respeitando a si mesmo, cultivando habilidades necessárias para prosperar.

Esses seriam os principais fatores ligados à percepção de felicidade, lembrando que a felicidade está na realização total ou parcial daquilo que é valorizado (importante) para a pessoa. Ter as necessidades básicas supridas, sentir-se aceito e inserido na sociedade (no grupo onde convive), ter um suporte social afetivo, sentir-se seguro, e conseguir se realizar nas atividades em que se compromete, esses são os principais fatores de felicidade. Depois disso tudo, como você avalia sua vida?

8 de fev. de 2011

A FAMÍLIA E AS PREOCUPAÇÕES COM O BULLYING

O último tema vencedor da enquete foi o de relações familiares, e por que não falar sobre o Bullying? É um assunto abordado por escolas, mas nem por isso quer dizer que é um assunto escolar. Muito pelo contrário, o Bullying é um assunto antes de mais nada FAMILIAR. Com o período de volta às aulas, acredito que seja um tema pertinente aos pais.

Só para revisar: O Bullying é o comportamento agressivo despropositado e sem motivação direcionado à vítimas potenciais (pessoas com alguma característica diferente como o peso, tamanho de partes do corpo, uso de óculos, ausência de status social, etc) em ambientes sociais. Essa agressão pode ocorrer em ambientes diferentes: escolas, cursinhos, clubes, ambiente de trabalho, entre coleguinhas de bairro e até mesmo nos locais mais inusitados (como contra alvos desconhecidos por motivos de homofobia, por exemplo), e atinge todas as faixas etárias. A agressão pode ser física, verbal, e ou moral.

Atualmente temos visto nos jornais diversos exemplos de comportamentos desse tipo:

- nos EUA uma criança de 09 anos de idade atirou e matou sua madrasta que estava grávida, com a arma de caça que seu pai o presenteou;

- no Rio de Janeiro um grupo de jovens de classe média alta "divertem-se" à noite espancando empregadas domésticas, prostitutas, homossexuais e trabalhadores de baixa renda pelas ruas, o caso só ganhou credibilidade graças às gravações de uma câmera de segurança de um posto de gasolina que flagrou a violência contra uma empregada doméstica;

- em São Paulo outro grupo de jovens é identificado como autor de diversos espacamentos de homossexuais em uma movimentada avenida da capital. As vítimas são escolhidas pela aparência física e um dos espancamentos quase levou a vítima ao óbito. As agressões são flagradas por câmeras de segurança de um prédio, e mesmo após a entrega das imagens à polícia e a divulgação na mídia, o mesmo grupo é flagrado novamente pelas mesmas câmeras cometendo novas agressões;

- no youtube é possível flagrar diversas brigas em portas de escolas entre adolescentes, que são filmadas e postadas pelos próprios colegas de escola através dos celulares com câmera;

- nas escolas tornam-se cada vez mais comuns brincadeiras como "corredor polonês", ou ainda apenas "corredor", "esculacho", "puxão de cueca", bem como estão cada vez mais frequentes o uso de apelidos jocosos, depreciativos e os xingamentos e uso de nomes chulos entre as crianças e adolescentes;

- através de redes sociais e sites de relacionamento é possível identificar páginas e páginas dedicadas à desmoralizar, ofender e destruir a imagem das vítimas de Bullying;

- em clubes, bares e casas noturnas as brigas e espancamentos por causa de leves esbarrões entre estranhos (mais do que normal em locais lotados) tem levados diversos jovens à paraplegia, tetraplegia, deformidade física e mesmo à morte;

- nem vou comentar o Bullying no ambiente de trabalho...

Mas de onde vem esse comportamento nos grupos sociais? Qual a origem cultural, sócio-histórica disso ainda quero pesquisar, mas de início vou ater-me ao básico, o grupo básico de formação social: A Família.

A família é a estrutura inicial onde os comportamentos sociais se manifestam e são modelados. Desde cedo uma criança aprende como deve portar-se socialmente: não coma de boca aberta, não fale de boca cheia, espere a sua vez para falar, você precisa usar roupas, precisa tomar banho e andar cheirosinho, precisa comer com talheres, diga por favor e obrigado, etc... Mas não somente as ordens de conduta são aprendidas – tenho certeza que muitas mães e pais estão se dizendo agora: mas eu cansei de falar pro meu filho não arrumar confusão, já até o castiguei diversas vezes, eu ensinei correto, mas ele faz tudo diferente. Pois então agora vem a explicação: as crianças aprendem não apenas pela audição, mas também pela visão, pelo tato e por associações de estímulos. Além do aprendizado por observação direta, também existe o aprendizado por vias abstratas. Ou seja: não adianta falar pro seu filho que não deve mentir e pedir que ele minta no telefone para algum contato indesejado dizendo que você não está em casa, também não adianta ensinar para o seu filho que não se pode bater em crianças pequenas, se todas as vezes que ele faz algo de errado você o impõe um castigo físico (bate nele), e por aí vão outros milhares de exemplos.


A responsabilidade da família hoje não é apenas a de manter uma criança livre de doenças somáticas e frequentando regularmente uma escola. A família é a responsável pela formação do indivíduo, sua personalidade e seus traços básicos de caráter, e é a partir dessa formação que acontecerá o trabalho das escolas e das instituições sociais de formar cidadãos. Perceba que indivíduo e cidadão são conceitos diferentes! Primeiro a família formará a estrutura básica do indivíduo e só a partir dessa formação as instituições sociais poderão exercer a sua função de formar cidadãos.

A personalidade e caráter de uma pessoa são estruturados inicialmente pela formação familiar, ou seja, através da observação dos padrões de relacionamento, a absorção do sistema de valores empregados à criança, as crenças sobre a vida e os relacionamentos que são transmitidos no dia a dia na convivência familiar. Essa formação da estrutura básica ocorre desde o nascimento até a idade de sete anos, aproximadamente, conforme a maioria das teorias psicológicas vigentes. Nesse processo a criança absorverá os padrões de relacionamentos amorosos (observe: a maioria das mulheres vítimas de agressão doméstica vivenciaram em suas infâncias a violência doméstica entre seus pais), familiares (observe: normalmente o valor dado à um idoso corresponde ao valor que esse idoso deu a seus pais quando era mais jovem, na presença de seus filhos), sociais, profissionais, acadêmicos, etc... Portanto, mesmo que você nunca tenha levantado a mão para o seu filho, se você o agride ou agride outras pessoas na presença dele de outras formas, você está ensinando um padrão agressivo à esta criança, pois lembrem-se: OS PAIS SÃO OS MODELOS DE APRENDIZADO DOS FILHOS.

Antes de dizer que seu filho se comporta de maneira inadequada, pare e analise o seu comportamento diante seu filho e as demais pessoas. Como você trata sua esposa/o? Como você trata sua empregada? Como trata seus pais? Como se refere aos amigos, aos colegas de trabalho e ao seu patrão? Como é sua atitude no trânsito? Como se refere às pessoas "desconhecidas" (famosos expostos em tablóides, professores e orientadores de seus filhos, vizinhos, amiguinhos e pais dos amiguinhos de seus filhos? Você está refletindo comportamentos que vão educar seu filho para ser uma pessoa admirada e querida, ou para ser uma pessoa indesejada? Os pais são os heróis de seus filhos, e heróis não são aqueles que não tem defeitos, mas sim aqueles que sabem reconhecer seus defeitos e buscam aperfeiçoar-se. Todos temos defeitos, poderia até mesmo dizer que é praticamente impossível ter um comportamento absolutamente irrepreensível, mas isso não quer dizer que devemos ignorar nossas falhas.

O ideal diante um comportamento inadequado de seu filho é refletir sobre seu próprio comportamento (recorra até mesmo ao auxílio de um psicólogo se necessário) e mais que imediatamente demonstre ao seu filho que você também está agindo errado, e que ambos devem corrigir esses defeitos, pois para convivermos no mundo de hoje e construir uma realidade decente para o futuro devemos sempre buscar sermos pessoas melhores.

Por isso, se nesse ano letivo a escola o procurar para dizer que seu filho está brigando na escola, ou que se envolveu em alguma situação embaraçosa com outro coleguinha, ou mesmo que está sendo vítima de agressões na escola, não martirize a criança, mas converse francamente com ela. E não espere apenas pela escola, mas investigue e esteja a par da atividade social e virtual de seus filhos. Tente identificar onde no ambiente familiar esse tipo de comportamento pode estar sendo encorajado e mostre que existem outros caminhos, busque exercitar novos comportamentos com seu filho. Leve seu filho a buscar e dar o perdão, a ser mais tolerante e compreensivo, a ser mais consciente e respeitoso com as demais pessoas. As recompensas retornarão hoje dentro de seu lar, e no futuro ao ver o seu filho um jovem admirado socialmente ao invés de notícia no jornal devido comportamentos inadequados.




*Reflexão:

Imagine que bênção seria se todos os políticos tivessem aprendido com suas famílias que é feio e repreensível roubar, mentir e enganar... Imagine se as famílias não aceitassem o dinheiro sujo da corrupção para viver em luxo e ainda denunciassem quando descobrissem tais comportamentos? Esse é só um pequeno exemplo...

VEJA ESTE ARTIGO TAMBÉM EM:  www.revistapalavra.com.br/psicologia

9 de dez. de 2010

O QUE FAZER QUANDO ACONTECE A ALIENAÇÃO PARENTAL?



Ao saber que uma criança está sendo exposta à alienação parental, sabe-se que seu bem-estar e desenvolvimento biopsicossocial estão em risco. Deve-se portanto ter certas atitudes visando a correção da situação, para que se possa restabelecer o bem estar e o desenvolvimento saudável da criança.
É importante lembrar que o relacionamento entre o parente alienado e o parente alienador normalmente é conflituosa, e por isso dificilmente será mediada em pouco tempo. Inicialmente é preciso conscientizar os adultos envolvidos que não precisam se relacionar e nem deixar de ter sentimentos negativos um pelo outro, não é preciso nem mesmo manter contato direto um com o outro, hoje em dia existem outros recursos como o email, o telefone, e mesmo as mensagens SMS. Mas é imperativo que esses adultos entendam o sofrimento que impoem à criança quando praticam atitudes alienadoras, que por mais que "odeiem" seu ex companheiro, a criança é um fruto desse relacionamento (um fruto abençoado!) cuja personalidade é constituída por traços de ambos, e isso precisa ser respeitado para permitir que seu filho não sofra com a separação dos pais. Digo não sofrer com a separação dos pais pois a separação real deve ser a do casal – não existe divórcio de filhos!
A partir desse entendimento é necessário que os agentes alienadores reflitam sobre seu comportamento e se disponham a reconhecer seu erro, pedir desculpas à criança (por menor que seja) pelo seu comportamento. É essencial que o adulto seja verdadeiro:
"Querido, me desculpe por algumas coisas feias que falei sobre sua mãe / pai, pelas vezes que fiquei triste por você estar com ela e não comigo, apesar de saber que você a ama também e estava feliz com ela. Como você percebeu estou triste com ela, mas quero que entenda que estou triste com minha ex-companheira e não com sua mãe / pai. Ela é uma boa mãe / pai e também te ama muito. Prometo que vou me esforçar para não repetir esse comportamento mais, vou ficar feliz por você estar feliz. Algumas vezes posso esquecer e acabar errando novamente, mas você pode me ajudar dizendo que não gostou e me lembrando que não devo fazer isso."
Afinal de contas, essa é a verdade! É preciso separar assuntos que são de adultos de assuntos que são de crianças. Assuntos financeiros, questões judiciais, críticas a comportamentos de uma pessoa adulta, devem ficar entre adultos. Com as crianças os adultos tem muitos outros assuntos a que se ocuparem! É preciso que saibam como está na escola, como estão com os amiguinhos, como tem sido o comportamento das crianças, em que elas tem tido dificuldades, ajudar em tarefas escolares, saber da criança o que ela gosta de fazer para se divertir e fazer junto dela, passear com a criança, ensinar coisas da vida para ela, enfim... uma gama de outras coisas que precisam ser feitas! Inclusive criar um canal de comunicação com essa criança para que ela possa falar de suas angústias, de suas curiosidades, de seus sentimentos e ajudá-la a enfrentar as dificuldades de maneira correta.
Por mais que seja difícil, é preciso entender de uma vez por todas que SEU EX-COMPANHEIRO AMA SEU FILHO TANTO QUANTO VOCÊ, E IRÁ PROTEGÊ-LO TANTO QUANTO VOCÊ. Se você quer que seu filho ouça palavras boas sobre você quando não está em sua companhia, é preciso dizer palavras boas sobre a outra figura parental quando a criança está com você!
Inicialmente os familiares precisam tentar resolver a questão pacificamente (acreditem, às vezes isso é possível!). Acontece que nem sempre o agente alienador é consciente do quanto está prejudicando seus filhos, mas os ama muito e se alguém o advertir da maneira correta, ele pode corrigir adequadamente as atitudes alienadoras que vinha tendo.
Quando conversar é possível, indica-se que as pessoas conversem, que se diga: "entendo que você esteja aborrecido comigo por diversos motivos, mas você precisa separar as coisas e não ficar falando essas coisas para as crianças, sempre que nossos filhos ouvem essas palavras de você ficam muito tristes e reajem de tal forma". Em alguns casos, essa comunicação é impossível sem discussões e ofensas, por isso lembrem que existe o "email"! Pode-se enviar um mail, falando sobre essas coisas, sempre se tendo o cuidado com a EDUCAÇÃO! Sempre que for se tratar de assuntos relativos aos filhos é importante que se mantenha a boa comunicação, e para tanto é imprescindível a polidez (nesse momento não pensem que estão se comunicando com o ex-compnaheiro, mas sim com a mãe/pai de seus filhos, essa pessoa merece sua educação e respeito, não é mesmo?).
Em muitos casos, com apenas essa comunicação, explicando que a criança necessita de sua atenção de uma maneira diferente (se preocupando com desenvolvimento acadêmico, amizades, comportamentos, alimentação, saúde e lazer), o responsável por essas atitudes alienantes é capaz de se recompor.
Infelizmente, nem todos os casos podem ser resolvidos dessa forma. Os alienadores nesses casos não percebem seus filhos como pessoas, mas como posses. Existe uma deturbação das relações familiares que necessitam de uma intervenção mais incisiva. Nestes casos, não há meios menos dolorosos de solução, é preciso que o genitor alienado procure o Conselho Tutelar de sua cidade e realize a denúncia de Alienação Parental, dando sequencia ao pedido de investigação psicossocial para averiguação. Acredito que o mais importante nessas questões é que o genitor alienador seja encaminhado para um processo psicoterapêutico, mediante determinação judicial e com acompanhamento da evolução por meios jurídicos, afim de garantir que esse genitor resolva seus conflitos sem mais prejudicar a criança.

3 de dez. de 2010

O que é Alienação Parental?

Alienação Parental é o ato de promover alienação / afastamento emocional ou físico de uma criança em relação à uma figura parental sua.

Esse tem sido um tema muito polêmico nas relações familiares de hoje em dia. O fato é que sempre aconteceu, mas com a promulgação desta nova lei o assunto finalmente está atingindo a proporção merecida. Entretanto não podemos dizer que tudo é alienação parental, ou achar que podemos sair acusando as pessoas desse crime. Primeiro é preciso entenderemos o que é a alienação parental, o que ela provoca nas pessoas, e finalmente como agir diante da suspeita de que isso esteja ocorrendo (assunto para o próximo post).
Alienação parental ocorre quando figuras parentais (pai, mãe, tios e ou avós) tentam de alguma maneira afastar emocionalmente a criança de um de seus genitores, sem existir motivo que justifique tal atitude. Esses parentes podem tentar denegrir a imagem da pessoa com a criança, limitar as informações sobre a criança no período em que estão na posse dela, podem dificultar o acesso do genitor à criança, realizar falsas denúncias crime contra o genitor alienado para reduzir ou impedir o contato da criança com o genitor alienado, etc. Observe que em momento nenhum especifiquei onde normalmente ocorre a alienação parental. Essas atitudes normalmente são atribuídas ao genitor detentor da guarda, mas nem sempre é esta figura a responsável por tal atitude. Em alguns casos o genitor não detentor da guarda também pode estar praticando essa violência, como o pai que revoltado (pela separação ou pelo fato da mãe estar em novo relacionamento, ou mesmo indignado em ser obrigado a pagar um certo valor de pensão), começa a falar com a criança que a mãe não presta, que a mãe está gastando todo o dinheiro com ela mesma, que a criança deve vigiar a mãe e contar para o pai tudo o que ela faz, etc. Ou ainda mais sutil, como o pai que não perde a oportunidade de recriminar as atitudes e opiniões da mãe, ou o pai que quando pega os filhos para um final de semana não permite que as crianças falem com a mãe ao telefone (*saliento que não é porque a mãe tem a companhia da criança durante a maior parte do tempo, que ela não tem o direito de falar com os filhos quando estes estão com o pai, além de amenizar a saudade que ela sente é uma forma de estar verificando o bem estar dos filhos - vide caso Nardoni). Ficou fácil de perceber agora como nem sempre é o detentor da guarda quem pratica as atitudes de alienção? Claro que na maioria dos casos observados e relatados, a alienação parte da mãe, que quer proibir ou limitar a visitação, que fica falando mal do pai para as crianças, etc.
Além dessa visão polarizada (é um ou é o outro), gostaria de ampliar um pouco mais a visão sobre o tema. Não apenas pai ou mãe são agentes alienadores, muitas vezes podem ser os avós, ou mesmo os tios que empreendem uma campanha de deterioração da imagem de uma figura parental. E o que dizer então, daqueles casais que chegam à separação com muitas mágoas recíprocas e não perdem a oportunidade de comparar comportamentos indesejáveis dos filhos com traços negativos do parente ausente: você está arrogante que nem a sua mãe / o seu pai? Além disso, ambos sentem a necessidade de dizer ao filho o quanto desaprovam comportamentos e traços da personalidade do outro: "a sua mãe é muito gastadeira" / "o seu pai só se importa com dinheiro"? Não apenas isso deveria ser considerado alienação parental, mas usar os filhos para enviar "recados" ao ex-conjuge, que provavelmente irão deixá-lo furioso, também é horrível pois a criança é quem presencirá toda a ira do genitor ao entregar o recado de um assunto que não lhe pertence. Fazer uma criança provocar a ira em um de seus genitores é uma forma de afastá-la emocionalmente também, é uma forma portanto, de alienação.
O grande problema da alienação parental nem é a corrente de mentiras e atitudes deploráveis, mas sim o que isso provoca na criança. Uma criança que está sofrendo este tipo de violência emocional, tende a se retrair, passa a ter dificuldades emocionais, dificuldades de relacionamento interpessoal, algumas crianças podem se tornar extremamente sensíveis e deprimidas, outras podem ficar muito agressivas e ansiosas. Algumas pessoas falam em Síndrome de Alienação Parental como um transtorno mental a ser incluso na DSM IV ou na CID 10, apesar a grande importância do tema e do fator de origem do problema possuir um vetor comum, os efeitos sintomáticos observados em crianças que sofrem esse tipo de abuso podem variar muito, e sempre se enquadram em diagnósticos já descritos nesses manuais. Pode ser um Transtorno de Ansiedade de Separação, Transtorno de Ajustamento, Transtorno Desafiador Opositivo, Transtorno Depressivo, etc. O fato é a Alienação Parental PROVOCA Transtornos Psicológicos nas crianças e podem afetar gravemente o desenvolvimento biopsicossocial. Imagine apenas o quão frágil é uma psiquê em formação. A personalidade de uma pessoa é formada na infância e na adolescência pelas influências que recebe do pai e da mãe, quando essa criança é obrigada a ouvir que seu pai ou sua mãe não são bons, isso não é uma agressão à uma pessoa externa, mas sim uma agressão à parte da personalidade em construção dessa criança.
Lógico que tudo isso é aplicado à condições normais, em que ambos os pais tem índole adequada. Existem casos em que a figura parental que é alienada apresentou motivos concretos para tal. Imaginem um pai ou uma mãe que desaparece sem justificativa por anos, não envia notícias, não liga num aniversário ou no natal, não manda nem uma carta sequer, e depois de anos reaparece desejando receber todo o carinho dos filhos. Existem ainda casos de genitores que são drogadictos, pedófilos, violentos, ou mesmo são envolvidos com atividades criminosas. Complicado estimular que um filho nutra amor por um genitor que abusou dele, ou que seja muito violento e já tenha maltratado gravemente a criança. Nesses casos o afastamento da criança dessa figura parental é algo natural que ocorra. Avaliar um caso de Alienação Parental não é fácil, é preciso conhecer todos os ambientes que a criança frequenta, entender a dinâmica desse abuso para saber quais são os fatores envolvidoss e onde se deve intervir.